terça-feira, 22 de março de 2011

Poesia desatada

Procurei
mas não há mais espaço
entre pensamento e fala
entre sentimento e escrita
É como um nó na garganta
que sufoca
e não permite o esvaziamento
do que há cá dentro

Está tudo atravessado
nos versos não paridos
no poema não revelado

Tudo é fantasia
é não dito
é sentido
Não faz sentido!

Escrevo
Apago
Escrevo
Apago
Não desato

O que me resta
é buscar nos versos de outros
meu sentimento roubado
recitado em estranhas bocas
que dizem o que quero me dizer-te
mas não sei

Já que os versos não despertam
o que me resta
é contentar-me com este mundo verdade
este mundo meu e nosso
Versos tortos
a me dizer

Versos tortos
Jeito torto
Vida torta

E esse nó na garganta
que não passa
O que quer me dizer?
Será que são mesmo estes teus versos
Retos?
Ou será que estes são apenas
meu desejo de se querer ser?

Na verdade
não me importo
Qualquer verso, havendo poesia
Qualquer poema, havendo poesia
Qualquer coisa, havendo poesia
Nesta noite chuvosa
me traz contentamento

Pois, em noites de chuva
só,
só a poesia salva.


Montenegro, O. Poema quebrado. 


Língua
"Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões 
Gosto de ser e de estar 
E quero me dedicar a criar confusões de prosódias 
E uma profusão de paródias que encurtem dores 
E furtem cores como camaleões 
Gosto do Pessoa na pessoa da rosa no Rosa 
E sei que a poesia está para a prosa 
assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?" 
Veloso, C. 

Poesia
"Gastei uma hora pensando um verso
Que a pena não quer escrever.
No entanto, ele está cá dentro
Inquieto, vivo.
Ele está cá dentro e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
Inunda minha alma inteira."
Drummond, C.

7 comentários:

  1. Também ando com essa sensação de "nó na garganta", de "verso não parido"... Tem uma porção de coisas inacabadas por aqui, se acumulando pelos cantos...Affff...

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  2. ...quando não se sabe o que dizer...

    deixa-se carinhos, afagos,
    e beijos!

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  3. Isabele,
    Só a poesia salva? Salvo-me aqui...

    Abraço mineiro,
    Pedro Ramúcio.

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  4. "Escrevo
    Apago
    Escrevo
    Apago
    Não desato"
    essa angústia pelo que escrever pro vez nos traz tanta febre e sensações de impotência

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  5. IsaBele...

    A própria chuva é um poema!...


    Beijos meus,
    AL

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  6. Que post lindo, carregado de sentimento.

    Beijos.

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  7. Nossa! Só lindezas, ate respirei bem fundo, pois alcançou alma e vísceras.

    Belíssimo post!

    Suzana/LILY

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