terça-feira, 23 de novembro de 2010

Seleção

Porque sempre foi assim. Eu nunca precisei dizer que não reajo bem sob pressão, sendo avaliada em cada gesto, em cada palavra bem ou mal dita. É normal a ansiedade tomar conta e estragar tudo, e eu dizer o que não queria dizer, e fazer cara de paisagem, e ao final, sentir uma vontade imensa de chorar. No fundo no fundo a gente sempre acaba mentindo um pouquinho sobre quem a gente é, porque a gente quer parecer ser mais merecedor do que os outros, a gente quer parecer mais nobre do que realmente somos. A peneira é cruel.

Ao fechar a porta o primeiro arrependimento foi ter mentido sobre um dos motivos que me levaram até aí. Embora não seja o mais importante pra mim, eu gosto sim de dinheiro (e não é nada nobre dizer isso) e no mundo que a gente vive ele é importante para que tenhamos uma vida um pouco mais sossegada . E eu acho que os professores devem buscar qualificação profissional e serem bem remunerados por isso. No entanto, mais do que dinheiro, na nossa profissão é preciso que se trabalhe com amor, não o amor romantizado que acha que a educação sozinha vai mudar o mundo, mas o amor real que não se desmantela diante das dificuldades, mas busca nelas a força para continuar existindo. Dinheiro não enche a alma, amor sim. E pra mim, sem amor, sem desejo, não há dinheiro no mundo que me faça ficar.

É difícil se manter sóbria diante do advogado do diabo tentando desconstruir tudo que você acredita, ou pensa que acredita, ou já nem sabe mais diante da confusão e de ficar mais de quatro horas aguardando no banco dos réus. Estou zonza... e desconfiada, e desacreditada.

Talvez a visão pessimista seja apenas uma estratégia de defesa para amaciar a queda. A gente finge que nem liga e, se não der certo, a consciência finge estar mais tranquila. “Deus sabe de tudo, se não for agora é porque não era mesmo pra ser.” Mas a verdade é que no fundo no fundo a gente vai chegando quase lá  porque acredita que pode dar certo. E a gente sofre por isso, a gente sofre...


4 comentários:

  1. Oi, Isa

    Realmente, saber que estamos sendo avaliados acaba tirando a naturalidade dos nossos gestos. Principalmente, porque num processo de seleção temos que ser "melhores" que os outros. A peneira é mesmo cruel.

    Abraços =)

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  2. Acredito que o que é nosso é, antes de ser. Se fizermos direitinho a nossa parte ele se mostra e nos apoderamos de vez, senão, não era nosso. E isso não é uma forma de doer menos... é uma forma de colocar alguma razão nas coisas.

    bjus e boa sorte.

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  3. Talves você esteja certa, Sabiana... Sabe lá!

    Bjinho e obrigada!

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  4. Isabele, todos, em algum momento, se arrependem do que dizem e do que fazem. Eu normalmente me arrependo do que digo e quase nunca do que faço. Não há verdades absolutas, embora alguns acreditem possuí-las. Ao longo de nossa existência vamos percebendo o quanto podemos ser tolos ou sagazes e uma verdade que pode ser extraída disso tudo é a de que não existe perfeição no gênero humano e que só deixaremos de cometer erros quando o ar parar de circular em nossos pulmões e o coração interromper suas atividades.Um forte abraço.

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