sábado, 18 de setembro de 2010

.Cartas

Cartas... Escritas a mão, em folha de caderno, em folha perfumada ou em papel de carta! Mexendo na minha caixinha de recordações, a última dessas que recebi data do ano de 2004. Era o Rômulo pedindo pra voltar, provavelmente após ter recebido uma outra carta minha falando sobre as minhas mágoas, devaneios, incertezas e outras maluquices que viviam rondando essa minha cabecinha estranha. Mas enfim, ainda vasculhando essa caixinha fui revivendo dezenas de emoções em papeis amarelados, desde promessas eternas de amores e amizades, até segredos que ainda continuam guardados, mesmo que eu nunca mais tenha encontrado o remetente.

Passei com lágrimas nos olhos pela carta que Ciça me escreveu quando fiz 13 anos. Uma carta com 13 páginas, cheia de boas energias, de promessas não cumpridas (por ambas), de mágoas resolvidas, e de uma cumplicidade que parecia não ter fim! Ciça era minha amiga mais velha, quando eu tinha treze, ela tinha dezoito. Até hoje não sei muito bem se eu é que era madura demais, ou ela infantil. Sei que foi uma amizade intensa, cheia de acertos e conflitos adolescentes, e não me lembro muito bem o que nos distanciou. Provavelmente a mudança de escola e de interesses. O fato é que provavelmente foi devido a Ciça que eu passei a gostar de ler, e consequentemente a gostar de escrever. Foi Ciça que me emprestou os primeiros livros interessantes que li, e sempre admirei seu jeito de escrever, as cartas que ela me enviava. Morávamos perto uma da outra, mas nos comunicávamos melhor através da escrita. A partir de então, tudo o que eu não conseguia dizer olho no olho, eu passei a escrever.

Devo ter deixado meu pai de cabelo em pé com as cartas que lhe dei... O Rômulo tremia com meus envelopes sobre a mesa. Não que meus escritos funcionassem como uma bomba, mas para mim, sempre foi mais fácil escrever do que falar, sobre as coisas que me incomodam, mas nunca deixei de escrever para também expressar momentos felizes e belos desejos . Já escrevi cartas que mudaram completamente a minha vida, penso que se não as tivesse escrito possivelmente teria tomado alguns outros caminhos. São essas pequenas decisões que vão traçando nossos destinos...

Recordei também as cartas de Juliana, a menina de Santa Catarina com quem me comuniquei durante algum tempo quando éramos da segunda série, por conta de um “intercâmbio” promovido pelo professor de matemática. Era interessante levar as cartinhas ao Correios e esperar o carteiro chegar. O que terá acontecido com Juliana? O que terá acontecido com aquele carteiro? O que aconteceu com as cartas?

Com o advento do e-mail e a pressa de coelho da Alice, nunca mais senti a ansiedade de esperar o carteiro ou levar uma cartinha ao Correios. As cartas que me chegam nos dias de hoje contém códigos de barra, e também me deixam de cabelo em pé!  A possibilidade de enviar e receber e responder recados escritos no mesmo dia, de fato, facilitou muito a nossa vida. Mas as cartas e seus cheiros e suas letras e seus papeis amarelados ainda me trazem grande nostalgia.

Essa nostalgia me pegou com tudo ontem, quando fui assistir a peça “Tudo que eu queria te dizer”, homônimo do livro de Martha Medeiros, escritora que muito admiro. Na verdade, a nostalgia já iniciou a caminho do Centro Cultural Correios, quando Karla não parava de falar do passado e de todas as histórias e pessoas que lembrávamos ter passado pela nossa adolescência, e parecíamos duas velhinhas saudosas no auge de nossos vinte e poucos anos. E depois, ver Ana Beatriz Nogueira interpretando as missivas escritas por Martha, foi de arrepiar. Impossível não chegar em casa com vontade de reler todas as cartas guardadas: as recebidas, os rascunhos, as não enviadas, as não assinadas... Impossível não querer escrever uma carta a alguém, com a minha letra, com o meu perfume, e enviar pelo Correios.

Isa Lacerda.

PS. Para quem for do Rio ou estiver na cidade, a temporada no CCC vai até dia 24 de outubro, e vale super a pena!

10 comentários:

  1. Oi, Isa

    Eu acho que tu é gaúcha e não sabe: Engenheiros do Hawaii, Martha Medeiros etc...rs

    Brincadeiras à parte, eu também tenho várias cartas guardadas. Cartas de amigos e de amores. Às vezes releio uma ou outra e lembro de cada momento com os remetentes.

    Nada como a sensação de ir numa agência dos Correios, enviar a carta e esperar a resposta. Como era bom chegar em casa e alguém dizer "chegou uma carta pra ti"!

    Hoje, só emails. E as pessoas têm tanta pressa que às vezes nem respondem. E aquelas correntes intermináveis que dão a volta ao mundo e retornam para nossa caixa de entrada não são exclusivamente para nós.

    Muito bem lembrado, Isa.

    Bjs

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  2. ...Isa querida,
    nada, absolutamente nada supera
    a emoção de uma carta em nossas
    mãos, e depois de lida e relida
    podemos ainda guardá-la no baú das
    boas lembranças, para quando a
    saudade apertar saber que ela
    está alí para o nosso deleite.

    que lindo este teu post!

    vc é uma linda!

    muahhhhhhh

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  3. Uma carta é a materialização de um momento, a personificação de um sentimento e um registro dos mais belos que se pode ter/fazer. Meu marido e eu nos escrevemos sempre cartas, escrevo também ao meu filho e cultivo nele esse interesse desde agora. Guardamos nossas cartas como jóias - porque são. Somos muito felizes com elas. "Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas." (Álvaro de Campos)

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  4. "mas para mim, sempre foi mais fácil escrever do que falar"

    isabele,
    as cartas são um pedaço de nós, ali guardadas, ali cheirando um tempo que não se foi basta abrir pra sentir a música tocar, tudo se abrir...

    um beijo grande,
    do homem-menino

    fique com Deus!

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  5. Assim que chegar em casa, vou visitar minha "caixinha de recordações". Aí, nem vc vai me aturar, tamanha nostalgia! Rs.

    Precisamos fazer programas como o de sexta feira toda semana!

    Bjokinha.

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  6. Eu também fui uma missivista e tanto. Além disso, mantive cadernos-diários durante anos e anos, escrever organizava a cabeça. Mas eram coisas bem impublicáveis. Que adolescente angustiada eu fui em alguns períodos. Também guardo cartas e lembro, para vc ver como eu era, que um dia um menino me pediu para namorar (eu tinha uns 13 anos) e eu disse que antes ele tinha que me escrever uma carta. Achei a carta tão sem graça que não sei se foi isso ou outra coisa, mas o fato é que me desencantei... pode? rsrsrs. bjos

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  7. Ótimo requisito para namorar, Dri: saber escrever, e bem!!! rsrsrsrs...

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  8. Tb "falo" melhor escrevendo! O mais curioso é que aqui em casa mais cartas que eu mandei e que, por um motivo ou por outro, acabaram sendo confiadas a mim novamente... Tem cartas minhas p/ minha comadre, dos tempos de adolescente tb... Escrevíamos direto, uma p/ a outra, mesmo se vendo todos os dias, mesmo morando tão perto... E agora, as cartas pro Gi... Será que elas contém tantos segredos impublicáveis assim?! rsrsrs

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  9. Oi Isa!
    Vim ao encontro da SUAS CARTAS.
    Vi o qto são tocantes e fortes.
    Adorei!

    bj
    .
    LizA

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