segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Arte popular

Hoje ouvi uma discussão interessante no rádio a respeito do artista plástico Vik Muniz. Falava-se das críticas que o artista vem enfrentando pela popularidade de sua arte, que vem sendo publicada sem a menor cerimônia na abertura da novela das oito. Afinal, obra de arte de qualidade não deve ser exibida para os populares que assistem as novelas.

Sinto que no Brasil, tudo que é popular, do gosto do povo, perde o valor. Basta o artista – seja ele músico, escritor, pintor, etc. - começar a fazer muito sucesso, para que a crítica especialista caia de pau em cima! Enquanto o sujeito (e sua arte) é apreciado apenas por uma elite intelectual, ele é considerado membro imortal do panteão artístico, daí basta o mesmo sujeito, com as mesmas obras, cair no gosto popular e pronto: não presta mais!


Eu não entendo muito de arte (talvez eu não entenda nada), mas pelo que andei lendo, Vik é um dos artistas plástico contemporâneo (e brasileiro!) mais conceituados no mercado de arte internacional, criando e recriando arte com os recursos mais inimagináveis possíveis, do açúcar à sucata. Em sua exposição no MAM do RJ no ano passado, o artista atraiu nada menos que 48 mil visitantes em dois meses, recebendo desde internos de instituições psiquiátricas, catadores de lixo e alunos de escolas públicas, à classe média carioca e magnatas do mercado de arte. O cara não para de aparecer em jornais e revistas, fez um documentário que foi premiado no festival de Berlim, enfim, está dominando as mídias de comunicação, e em consequência tem levando sua arte ao povo, sejam eles elites ou plebes.

Decerto, muito do que cai no gosto popular pode ter um caráter duvidoso, até porque o que se dá ao povo, na maioria das vezes, é lixo da pior qualidade. Mas acredito que há também muita coisa boa por aí. E o fato de um tipo de arte ser apreciada pelas camadas populares (e aí eu me incluo) de forma alguma a empobrece, ao contrário, significa que ela está ao alcance de todos, como toda obra de arte deveria estar.

Isa Lacerda.


Às vezes eu acho que a melhor coisa que um artista pode fazer para ganhar notoriedade e respeito à sua arte, e ainda ter seus pecados perdoados, é morrer!

7 comentários:

  1. De fato, há uma babaquice enorme nos que se concebem parte da "elite intelectual". Tenho percebido isso quando falo de cinema, p. ex. Para muitos "intelectuais", todo filme norte-americano não presta, porque foi feito em Hollywood. É uma bobeira, porque não se pode ignorar o fato inegável de que o cinema dos EUA é o melhor do mundo: mais estruturado, conta com mais incentivos, investimentos e anos e anos de experiência. Mas eles produzem em grande escala, fazem muitos filmes, e acabam fazendo muita porcaria também.

    Mas eu não me proponho a ver filmes iranianos para mostrar aos colegas que sou intelectual. Às vezes a pessoa vê um filme de Fellini, não entende nada, mas diz que adorou para mostrar que é culto. Coisas do ser humano...

    Grande abraço e parabéns pelo texto!

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  2. Olá amiga!

    Desde que existe arte e crítica de arte foi assim! Espero que isso mude um dia!

    Muito boa sua crítica sobre a crítica, podemos não entender sobre muitas coisas, mas sentimos e o sentimento também nos dá conta de informações importantes,

    grande beijo!

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  3. Isabele,

    Arte é arte, seja ela qual for, até mesmo quando uma dúzia de críticos se acham no direito de analisar o íntimo de uma obra entupida de alma. Nem todo mundo entende que o popular é a forma mais certa de ser você mesmo, porque quando queremos agradar somente um público alvo a inspiração vai por água abaixo.

    Pois é, moramos longe, mas quase todos os meses passamos dias agarrados e chamegando.

    Beijo imenso, menina linda.

    Rebeca

    -

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  4. Oi Isabele!
    E o que diríamos das obras de Portinari no Faustão? O que dizem os críticos sobre este espaço na mídia? O que nos interessa é o belo, a celebridade pode ser manipulação da manipulação, crítica da crítica... Ou melhor dizendo, contemplamos o belo, o resto é o resto, porém, percebemos a ressignificação dos resíduos... O claro pode ser escuro, o frio pode ser quente. Reencantamos os olhares. Post que merece ampliar debate!

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  5. Penso que na arte, muito mais do que ficarmos tentando analizar o que o autor quis dizer, requer apenas que analizemos o que sentimos ao vislumbrá-la. O que nos impacta? O que nos incomoda? Ou apenas nos deliciarmos com a beleza diante dos olhos, apenas amá-la, ou odiá-la.

    O que não entendo é o porque de apenas as opiniões dos críticos interessa? Quem de fato tem o poder de formar opiniões? Quem é capaz de nos dizer o que pode ou não nos tocar o coração? Quem tem o poder de atribuir valores aos nossos sentimentos e emoções? Apenas um grupo de pessoas pode criticar (e ser ouvido)?

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  6. ótimo teu post, abre quase um caminho para um debate mais amplo.
    e melhor ainda esse teu coment acima. Voce disse tudo. " o que importa realmente é o que se vê, o que se sente ao ver , e não o que me dizem ser"
    Parabens
    Maurizio

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  7. Pois é Isa, isso realmente existe com tudo aqui, até com roupas.

    chega a ser patético esse comportamento. O pior que isso atinge a pessoa por trás do nascimento da coisa em especifíco.

    beijos

    leo

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