quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Bem ou malmequer?




Diz o senso-comum que amar é não esperar nada em troca. Pois eu duvido. Mais me parece que o amor é uma via de duas mãos. Aquele que ama deseja também receber amor. Nesse sentimento, todos querem ser correspondidos. Para a maior parte das pessoas, amar sozinho é insuficiente, inodoro, insosso e insípido.

Amar é desejar ser amado. O amor humano é algo bastante exigente e inseguro. O amante dificilmente tem a certeza de ser correspondido. Vive pedindo provas disso. Acontece que o amor é coisa que se experimenta, não se prova. Isto é, nenhuma prova de amor é suficiente. E isso não é privilégio do amor romântico, é assim com todas as relações.

A mãe quer que o filho, que é introvertido e seco, lhe diga o quanto a ama. O pai quer que aquele filho que tem dificuldade na escola, tire notas altas. O namorado quer que a namorada, recatada, faça estripulias no sexo. A namorada, que tem um par que é aversivo ao casamento, quer justamente isso dele: se casar. É, o amor pede justamente aquilo que o outro não pode dar.

Que graça tem ganhar beijos de um beijoqueiro? Receber flores do dono da floricultura? Ganhar poemas do poeta? Isso tudo é café pequeno. O amor é megalomaníaco e quer o impossível.

Porque o que o ser humano deseja é se sentir especial. Não se contenta em ser amado, quer mais, quer que o outro lhe mostre isso. Quer que o amado mova montanhas, transforme água em vinho.

Mas isso tudo é puro jogo que o sentimento e a razão fazem. Porque racionalmente, esse desejo de querer provas de amor não faz o menor sentido. Principalmente porque, se acontece de uma pessoa conseguir, efetivamente, provar o seu amor à outra pessoa, o jogo acaba. E o amado se queixa de se sentir “sufocado”. Diz que o outro “perdeu a graça”.

O amor está sempre escondendo algo, tem sempre algo de oculto. Porque aquele que ama faz as palavras serem insuficiente. Não sabe dizer ou explicar o amor ou a escolha pelo amante. O amor é uma paixão de desconhecimento. Por um lado não se sabe por que se ama, por outro lado não se sabe se é também amado.

Amar é pisar em ovos. Porque toda a graça está na dúvida. Ele(a) me ama, ele(a) não me ama, ele(a) me ama, ele não me ama. Bem-me-quer, mal-me-quer.


SUY, Ana. In: Significantes.


3 comentários:

  1. Muito chique.
    Fico feliz que tenhas gostado, Isabele

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  2. É preciso encontrar a graça do prosaico, a poesia na prosa. "Amar se aprende amando, não omitindo o real cotidiano, também matéria de poesia".

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  3. IsaBele,

    O amor e a dúvida, são as duas faces da mesma moeda!...

    Beijos,
    AL

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