Acho que em todas as culturas em que há uma data ou ritual que marque a passagem do tempo, o momento serve como reflexão sobre o tempo que passou. Tempo de avaliar o passado e planejar (o que for possível) o futuro. Para mim, 2010 não foi um ano tão diferente dos últimos, mas com algumas novidades que valeriam a pena serem relembradas.
Poderia falar aqui sobre o novo trabalho, onde tive experiências maravilhosas trabalhando com alunos adultos. Poderia falar da saudade que eu sinto dos pequenos. Poderia falar sobre amores e amigos verdadeiros, com quem compartilhei as dores e alegrias neste ano. Poderia falar sobre dúvidas e medos que tive do mundo e até de mim mesma. Poderia falar sobre os filmes que vi e os quais ainda não consegui assistir. Poderia falar da vontade que eu tive de mudar de emprego e de vida. Poderia falar da minha família, que fica cada dia mais louca, engraçada, bonita e distante de mim (por minha causa). Poderia falar da alegria, da angústia e das expectativas em relação ao mestrado. Poderia falar da esperança ainda mais estranha que tenho de que tudo melhore neste país. Mas quero mesmo é falar de encontros, ou melhor, de um reencontro, que me possibilitou tantos outros.
O encontro de que quero falar é do reencontro com a escrita, que me trouxe a este espaço e me possibilitou reencontrar e conhecer tantas pessoas bacanas, que também gostam de escrever e compartilhar seus desejos, fantasias, sonhos, medos, revoltas e uma infinitude de sentimentos que nos tocam enquanto gente. A escrita, que me traz muitas alegrias e alguns aborrecimentos, que me esconde e me revela, que me aproxima e me afasta, que me confunde e me esclarece. A escrita, que me faz ter ainda mais vontade de comer literatura, de descobrir outros modos e mundos, que me leva a conhecer um pouco mais daquilo que me inquieta, que não tem nome, mas que está dentro de mim. A escrita, que fez meus pensamentos pararem de circular dentro de mim e vir para um espaço público ser compartilhado, julgado, comentado, ignorado ou sentido. A escrita, que sempre me deixa na dúvida se tem ou não ífen, vírgulas, acentos, concordância, etc. Que sempre me diz que é preciso ler mais e escrever melhor , que às vezes me convence de que é melhor não publicar, mas nunca a parar de escrever. A escrita, que me é tão despretensiosa, que quer apenas me aliviar, me fazer mais leve (e mais livre). Que há muito estava ausente, que veio se reaproximando através de outros textos. Que chegou, que sempre deixa saudade e não quer partir.
Que em 2011 ela traga boas notícias, mas que não tenha vergonha de chorar, de se mostrar frágil e sensível. Que ela possa ser perdoada quando não vier tão bonita quanto gostaria, mas que sempre esteja por aqui, e por aí também.
Feliz 2011!