quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Último post de 2010

Acho que em todas as culturas em que há uma data ou ritual que marque a passagem do tempo, o momento serve como reflexão sobre o tempo que passou. Tempo de avaliar o passado e planejar (o que for possível) o futuro. Para mim, 2010 não foi um ano tão diferente dos últimos, mas com algumas novidades que valeriam a pena serem relembradas.

Poderia falar aqui sobre o novo trabalho, onde tive experiências maravilhosas trabalhando com alunos adultos. Poderia falar da saudade que eu sinto dos pequenos. Poderia falar sobre amores e amigos verdadeiros, com quem compartilhei as dores e alegrias neste ano. Poderia falar sobre dúvidas e medos que tive do mundo e até de mim mesma. Poderia falar sobre os filmes que vi e os quais ainda não consegui assistir. Poderia falar da vontade que eu tive de mudar de emprego e de vida. Poderia falar da minha família, que fica cada dia mais louca, engraçada, bonita e distante de mim (por minha causa). Poderia falar da alegria, da angústia e das expectativas em relação ao mestrado. Poderia falar da esperança ainda mais estranha que tenho de que tudo melhore neste país. Mas quero mesmo é falar de encontros, ou melhor, de um reencontro, que me possibilitou tantos outros.

O encontro de que quero falar é do reencontro com a escrita, que me trouxe a este espaço e me possibilitou reencontrar e conhecer tantas pessoas bacanas, que também gostam de escrever e compartilhar seus desejos, fantasias, sonhos, medos, revoltas e uma infinitude de sentimentos que nos tocam enquanto gente. A escrita, que me traz muitas alegrias e alguns aborrecimentos, que me esconde e me revela, que me aproxima e me afasta, que me confunde e me esclarece. A escrita, que me faz ter ainda mais vontade de comer literatura, de descobrir outros modos e mundos, que me leva a conhecer um pouco mais daquilo que me inquieta, que não tem nome, mas que está dentro de mim. A escrita, que fez meus pensamentos pararem de circular dentro de mim e vir para um espaço público ser compartilhado, julgado, comentado, ignorado ou sentido. A escrita, que sempre me deixa na dúvida se tem ou não ífen, vírgulas, acentos, concordância, etc. Que sempre me diz que é preciso ler mais e escrever melhor , que às vezes me convence de que é melhor não publicar, mas nunca a parar de escrever. A escrita, que me é tão despretensiosa, que quer apenas me aliviar, me fazer mais leve (e mais livre). Que há muito estava ausente, que veio se reaproximando através de outros textos. Que chegou, que sempre deixa saudade e não quer partir.

Que em 2011 ela traga boas notícias, mas que não tenha vergonha de chorar, de se mostrar frágil e sensível. Que ela possa ser perdoada quando  não vier tão bonita quanto gostaria, mas que sempre esteja por aqui, e por aí também.

Feliz 2011!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal

Daqui a pouco, quando as compras cessarem, quando os carros pararem e os engarrafamentos acabarem, quando os presentes forem todos entregues, quando a fome cessar, quando a música parar, o corpo descansar e a pressa se for, que possamos enfim sentir o Natal. E que não seja apenas uma data, e que não seja apenas hoje, mas que seja nossa orientação para os dias que virão.
“Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.”
E quando nossos espíritos se acalmarem, pensemos naqueles que não fizeram compras, que não dançaram, que não comeram, que não têm pressa... naqueles que não conseguimos amar. Que mais do que bom desejos, tenhamos boas ações.

Feliz Natal!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Gente (por Renato Russo)

Si sbaglia sai quasi continuamente, Sperando di
Non farsi mai troppo male ma quante volte si cade
La vita sai è un filo in equilibrio e prima o poi
Ci ritroviamo distanti davanti a un bivio.

Ed ogni giorno insieme per fare solo un metro in più
Ci vuole tutto il bene
Che riusciremo a trovare in ognuno di noi














Ma volte poi basta un sorriso solo a scogliere in noi
Anche un inverno di gelo e repartire da zero
Perché non c'è limite per nessuno che dentro sè
Abbia un amore sincero, solo un respiro, non siamo

Angeli in volo venuti dal cielo
Ma gente comune che ama davero
Gente che vuole un mondo più vero
La gente che incontri per strada in città

Prova e vedrai ci sarà sempre un mondo dentro di noi
Per poi riprendere il volo, verso il sereno, non siamo

Angeli in volo venuti dal cielo
Ma gente comune che ama davero
Gente che vuole un mondo più vero
La gente che insieme lo cambierà


(Composição: A. Valsiglio / Cheope / M. Marati )




sábado, 11 de dezembro de 2010

Tá acabando...

Há alguns anos a proximidade do ano findando me dá sempre a mesma sensação: ao mesmo tempo em que eu quero que o tempo passe logo, ansiosa pelo Ano Novo dentro de mim, eu também rezo para os dias terem no mínimo 40 horas, para que eu possa dar conta de todas as pendências que necessitam ser ajustadas antes do novo chegar.

Na verdade é tudo velho, tudo igual, apenas um desejo de recomeço, uma urgência em recarregar as baterias. O mesmo cansaço do ano passado, a mesma correria para entrega dos resultados das provas, celebrações mil e o espírito querendo acalmar. Mas em meio a todo esse tumulto sempre há tempo de se emocionar, de ouvir o não dito ao longo de todo ano, de parar por um segundo e agradecer, de olhar com cuidado. E então vai dando em mim um misto de cansaço e alegria, uma energia boa e estranha a me levantar da cama, mesmo que o corpo implore por mais algumas horas de sono.

Mas ainda assim prefiro os tempos de calmarias e amores de ano todo. Ainda quero que o ano termine logo...

Tô cansada!

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Minha herança: uma flor

Achei você no meu jardim
Entristecido
Coração partido
Bichinho arredio

Peguei você pra mim
Como a um bandido
Cheio de vícios
E fiz assim, fiz assim

Reguei com tanta paciência
Podei as dores, as mágoas, doenças
Que nem as folhas secas vão embora
Eu trabalhei


Fiz tudo, todo meu destino
Eu dividi, ensinei de pouquinho
Gostar de si, ter esperança e persistência
Sempre


A minha herança pra você
É uma flor com um sino, uma canção
Um sonho, nem uma arma ou uma pedra
Eu deixarei

A minha herança pra você
É o amor capaz de fazê-lo tranquilo
Pleno, reconhecendo o mundo
O que há em si


E hoje nos lembramos
Sem nenhuma tristeza
Dos foras que a vida nos deu
Ela com certeza estava juntando
Você e eu


Achei você no meu jardim...

(Vanessa da Mata)

É pra ver e ouvir com lágrimas nos olhos... Lindo demais!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Será que será hoje???!!!

Não sei se fui pé frio ou pé quente. No ano em que eu nasci o Fluminense foi campeão brasileiro, e a partir daí, bom... todos sabem. Time do meu amado pai, alegria dupla, meu time. Nunca fui fã de futebol, mas amava (e amo!) meu pai, o único desviante da família flamenguista. Eu achava bonito ele não ser igual a todo mundo, e não ser desses chatos que ficam enchendo a paciência dos outros por causa de time. Nem sequer tentou nos convencer, a mim e ao meu irmão, de torcer pelo seu time, trabalho feito pelo meu tio flamenguista fanático, que vestiu meu irmão recém nascido com o uniforme preto e vermelho e que o menino jamais tirou. Meu pai se manteve firme, sem se descabelar por futebol, batendo sua bolinha aos fins de semana e não respondendo às implicâncias dos flamenguistas. Me descobri torcedora do fluzão por solidariedade e admiração ao meu pai. Ah, e também por que eu acho a combinação de cores linda! Desde então eu gosto de assistir aos jogos do fluminense, ou pelo menos me enteresso pelos resultados.

No setor em que trabalho, eu e Vinícius somos os únicos tricolores. Eu nem falo muito de futebol, mas em solidariedade ao Vinícius tenho que me impor e emitir minhas opiniões. Eu acho um saco dia segunda feira no trabalho, principalmente porque os poucos homens que têm só sabem falar de futebol, uma verdadeira ressaca de domingo e atraso no que interessa. E eu lá dando moral pro Vini, tadinho, os tricolores são sempre solitários e precisam se unir nessas horas. Normalmente eu não entendo as matemáticas futebolescas, apenas concordo com o Vinícius e entro nas apostas pra não deixá-lo sozinho (e pra ele pagar, é claro!). Mas na segunda que vem nós dois seremos a maioria, porque hoje, pela primeira vez, vou ver meu time campeão! Mas como somos tricolores, não vamos ficar perturbando ninguém por conta disso, apenas estaremos mais felizes.

Como não me rendi ao assalto dos cambistas, assistirei ao jogo na casa do meu pai, e juntos, viveremos novamente a alegria de 26 anos atrás. A não ser que...




quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Tempos Modernos

Eu vejo a vida melhor no futuro
Eu vejo isso por cima do muro
De hipocrisia que insiste em nos rodear
Eu vejo a vida mais farta e clara
Repleta de toda a satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão

Eu quero crer no amor numa boa
E que isso valha prá qualquer pessoa
Que realizar a força que tem uma paixão

Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade pra dizer mais sim do que não

Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
E não há tempo que volte amor
Vamos viver tudo o que há prá viver
Vamos nos permitir

(Lulu Santos)

Por Marisa

Verborrágica

Cansei de escrever. Pra falar a verdade tudo isso não é muito eu. Sempre fui mais de ler do que escrever. Gosto também de falar, aliás, mil vezes bater um bom papo do que ler. As palavras ditas voam com o tempo, podem até deixar marcas, mas não deixam provas, escrever é perigoso... Uma pena é não ter à disposição um Veríssimo pra tomar um chopp, uma Clarice pra tomar um vinho, um Machado pra tomar um café, um Caio pra fumar um cigarro e bater um lero de madrugada, pra rir na madrugada (há pouco descobri o quanto Caio também era um sujeito divertido!). Sem falar que eu realmente não gosto muito do que escrevo. Estou aqui muito mais pra bater papo do que pra escrever. Vocês podem estar pensando: “mas escrever e ler também são formas de conversas”. Tudo bem, concordo, mas eu leio o que leio porque não tenho como conversar “téte a téte” com os escritores, caso contrário não teria mais voz nem ouvidos de tanta conversa boa! Gosto mesmo é de falar, olhos no olhos, corpos falando, mãos agitadas, palavra sentida em cheio. Mamãe sempre dizia: “Julinha, sossega pra falar menina!”. Dona Josefa não percebia que ela também se mexia toda pra me dar bronca, falava mais com os quadris e com as mãos do que com a boca. Ah, que saudade da Dona Josefa!...

Na adolescência eu e Lili passávamos longas tardes conversando, e na hora de ir embora eu a levava até a esquina da sua casa e lá ficávamos mais uma hora contando nossos causos, e como o assunto nunca acabava, ela sempre voltava até a esquina da minha casa para tentar terminar o papo. Se despedir era difícil, a gente gostava muito de falar, e tudo era importante e urgente. Hoje em dia acho que não tem mais nada tão importante e urgente que não possa ser dito por e-mail. Eu e Lili quase não nos falamos mais, ela se tornou intelectual e só tem tempo pra ler...

Tá difícil encontrar um parceiro bom de papo. As pessoas se despedem pra conversar no MSN, e então todos querem falar, mas ninguém quer ouvir. Isso não pode ser conversa. É por essas e outras que eu acabo caindo na tentação dos livros, mas aí depois que eu leio, eu fico doida pra falar com alguém, pra ouvir alguém. Então eu escrevo pra conversar comigo mesma. E as conversas são tão sem pé nem cabeça que até me deixam em dúvida quanto a minha sanidade. Cada vez eu gosto menos do que escrevo, cada vez eu fico mais cansada de conversar comigo. Então vou lá e pego um livro.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Do sonho

Ele disse que não gostava de sonhar. Sonhos não eram vantajosos em nada: se fosse ruim, era angustiante; se fosse bom era apenas um sonho. Até Drummond deu lá suas espetadas nessa nossa mania de sonhar, quando disse que nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Ora, se nossa dor advém dos sonhos irrealizados, o contrário também pode ser verdade. Talvez seja por isso que, em geral, as pessoas não deixam de sonhar, de acreditar nos outros, enfim, de sonhar com uma realidade mais bonita. Se sonhar às vezes dói, outras vezes é carinho, afago com gostinho de esperança. Drummond, esse lindo, também disse que fácil é sonhar todas as noites, difícil é lutar pelo sonho, e como! Para lutar é preciso antes acreditar no sonho, é preciso não ter medo dos pesadelos que possam surgir, e é preciso sobretudo, deixar de apenas sonhar e colocar a mão na massa! O moço estava enganado. Sonhar não pode ser apenas um sonho, sonhar mexe com a gente.