quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Verborrágica

Cansei de escrever. Pra falar a verdade tudo isso não é muito eu. Sempre fui mais de ler do que escrever. Gosto também de falar, aliás, mil vezes bater um bom papo do que ler. As palavras ditas voam com o tempo, podem até deixar marcas, mas não deixam provas, escrever é perigoso... Uma pena é não ter à disposição um Veríssimo pra tomar um chopp, uma Clarice pra tomar um vinho, um Machado pra tomar um café, um Caio pra fumar um cigarro e bater um lero de madrugada, pra rir na madrugada (há pouco descobri o quanto Caio também era um sujeito divertido!). Sem falar que eu realmente não gosto muito do que escrevo. Estou aqui muito mais pra bater papo do que pra escrever. Vocês podem estar pensando: “mas escrever e ler também são formas de conversas”. Tudo bem, concordo, mas eu leio o que leio porque não tenho como conversar “téte a téte” com os escritores, caso contrário não teria mais voz nem ouvidos de tanta conversa boa! Gosto mesmo é de falar, olhos no olhos, corpos falando, mãos agitadas, palavra sentida em cheio. Mamãe sempre dizia: “Julinha, sossega pra falar menina!”. Dona Josefa não percebia que ela também se mexia toda pra me dar bronca, falava mais com os quadris e com as mãos do que com a boca. Ah, que saudade da Dona Josefa!...

Na adolescência eu e Lili passávamos longas tardes conversando, e na hora de ir embora eu a levava até a esquina da sua casa e lá ficávamos mais uma hora contando nossos causos, e como o assunto nunca acabava, ela sempre voltava até a esquina da minha casa para tentar terminar o papo. Se despedir era difícil, a gente gostava muito de falar, e tudo era importante e urgente. Hoje em dia acho que não tem mais nada tão importante e urgente que não possa ser dito por e-mail. Eu e Lili quase não nos falamos mais, ela se tornou intelectual e só tem tempo pra ler...

Tá difícil encontrar um parceiro bom de papo. As pessoas se despedem pra conversar no MSN, e então todos querem falar, mas ninguém quer ouvir. Isso não pode ser conversa. É por essas e outras que eu acabo caindo na tentação dos livros, mas aí depois que eu leio, eu fico doida pra falar com alguém, pra ouvir alguém. Então eu escrevo pra conversar comigo mesma. E as conversas são tão sem pé nem cabeça que até me deixam em dúvida quanto a minha sanidade. Cada vez eu gosto menos do que escrevo, cada vez eu fico mais cansada de conversar comigo. Então vou lá e pego um livro.

4 comentários:

  1. Clarice, em uma de suas crônicas para o Jornal do Brasil, deixou claro que escrevia também e principalmente porque tinha que viver, isto é, tinha que trabalhar para ganhar dinheiro e, o trabalho dela era escrever.

    Todos nós nos cansamos e nos entendiamos. Não há exceções.

    Eu quase nunca converso no MSN, odeio telefones e muita engenhoca.

    Eu gosto de uma boa conversa, mas até isso cansa.

    Então, escrevo, é bom, pois eu o faço quando quero. Imagina se isso virasse profissão?

    Beijos!

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  2. Já gostei mais de conversar, bem mais... já hoje sou mais de ouvir e escrever. Tenho pouquíssimas pessoas no msn e raríssimos amigos com quem tenho intimidade pra contar algo meu. Sabe, Isabele, mesmo você não gostando de escrever, escreve lindo.

    Beijão.

    Rebeca

    -

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  3. Isse texto não é autobiográfico, amores. A única verdade é que eu realmente não gosto muito do que escrevo e falo pouquíssimo normalmente, e volta e meia me arrependo do que eu falo ou escrevo rsrs. Acho que fico mais a observar o mundo, as palavras e as pessoas...

    Bju!!!

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  4. a palavra escrita é tão maravilhosa que permite que vc escreva sobre ela ou sobre a falta dela...

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