quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Benditas

Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas

A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre
O amor não mente, não mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos
mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma

(Mart’nália e Zélia Duncan)


domingo, 26 de setembro de 2010

TPM

Hoje, amanhã, e talvez até depois de amanhã, não serei feliz, e muito menos educada. Não, não dá. Olharei para você com o olhar mais triste que tenho, e me irritarei só de você me olhar assim, cheio de dúvidas. Serei grossa sem culpa e morrerei todas as horas. E vou chorar, ah!... vou chorar muito! E por favor, não adianta vir me consolar,  e não me faça perguntas, me deixe só comigo, e sem mim... Tenho direito aos meus três dias de tristeza, falta de educação e ataque dos nervos.

Vou dizer coisas que podem te magoar, mas tente não levá-las em consideração. Aliás, não leve em consideração nada do que eu for esses dias. Não, eu não vou brigar, não sou disso, mas deixe que eu me alimente de todas as porcarias do mundo, deixe que eu fale palavrões, deixe que eu ouça músicas tristes, deixe que eu chore... Apenas não me interrompa.



Seja você esperto. Fique longe, mas não me abandone. Abrace-me, mas não se aproxime demais. Não me conteste. Não fique tentando me agradar, nada me satisfará. Faça silêncio, palavras apenas atrapalham este meu estado carregado de hormônios em desequilíbrio. Encontre nosso equilíbrio. Leia meu corpo. Leia meus olhos. Compreenda esta minha ausência, essa minha independência e essa estranha carência.

Eu sei. Sou insuportável. Talvez seja esta a minha verdadeira faceta. Mas depois de amanhã, eu prometo, tudo vai passar. Voltarei a ser uma moça bonita e coerente. Então só lhe faço mais um pedido: Continua me amando depois de amanhã?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Qualquer dia...


"A maioria dos dias do ano são irrelevantes. Eles começam e terminam sem nenhuma lembrança duradoura entre eles. A maioria dos dias não têm impacto no percurso da vida. Se Tom aprendeu alguma coisa foi que não se atribui um grande significado cósmico a um simples evento na Terra. Coincidência, é tudo o que uma coisa é, nada mais do que coincidência. Tom finalmente aprendeu que não existe milagres. Não existe esta coisa de destino. Nada é para sempre."

[ (500) Days of summer. ]

sábado, 18 de setembro de 2010

.Cartas

Cartas... Escritas a mão, em folha de caderno, em folha perfumada ou em papel de carta! Mexendo na minha caixinha de recordações, a última dessas que recebi data do ano de 2004. Era o Rômulo pedindo pra voltar, provavelmente após ter recebido uma outra carta minha falando sobre as minhas mágoas, devaneios, incertezas e outras maluquices que viviam rondando essa minha cabecinha estranha. Mas enfim, ainda vasculhando essa caixinha fui revivendo dezenas de emoções em papeis amarelados, desde promessas eternas de amores e amizades, até segredos que ainda continuam guardados, mesmo que eu nunca mais tenha encontrado o remetente.

Passei com lágrimas nos olhos pela carta que Ciça me escreveu quando fiz 13 anos. Uma carta com 13 páginas, cheia de boas energias, de promessas não cumpridas (por ambas), de mágoas resolvidas, e de uma cumplicidade que parecia não ter fim! Ciça era minha amiga mais velha, quando eu tinha treze, ela tinha dezoito. Até hoje não sei muito bem se eu é que era madura demais, ou ela infantil. Sei que foi uma amizade intensa, cheia de acertos e conflitos adolescentes, e não me lembro muito bem o que nos distanciou. Provavelmente a mudança de escola e de interesses. O fato é que provavelmente foi devido a Ciça que eu passei a gostar de ler, e consequentemente a gostar de escrever. Foi Ciça que me emprestou os primeiros livros interessantes que li, e sempre admirei seu jeito de escrever, as cartas que ela me enviava. Morávamos perto uma da outra, mas nos comunicávamos melhor através da escrita. A partir de então, tudo o que eu não conseguia dizer olho no olho, eu passei a escrever.

Devo ter deixado meu pai de cabelo em pé com as cartas que lhe dei... O Rômulo tremia com meus envelopes sobre a mesa. Não que meus escritos funcionassem como uma bomba, mas para mim, sempre foi mais fácil escrever do que falar, sobre as coisas que me incomodam, mas nunca deixei de escrever para também expressar momentos felizes e belos desejos . Já escrevi cartas que mudaram completamente a minha vida, penso que se não as tivesse escrito possivelmente teria tomado alguns outros caminhos. São essas pequenas decisões que vão traçando nossos destinos...

Recordei também as cartas de Juliana, a menina de Santa Catarina com quem me comuniquei durante algum tempo quando éramos da segunda série, por conta de um “intercâmbio” promovido pelo professor de matemática. Era interessante levar as cartinhas ao Correios e esperar o carteiro chegar. O que terá acontecido com Juliana? O que terá acontecido com aquele carteiro? O que aconteceu com as cartas?

Com o advento do e-mail e a pressa de coelho da Alice, nunca mais senti a ansiedade de esperar o carteiro ou levar uma cartinha ao Correios. As cartas que me chegam nos dias de hoje contém códigos de barra, e também me deixam de cabelo em pé!  A possibilidade de enviar e receber e responder recados escritos no mesmo dia, de fato, facilitou muito a nossa vida. Mas as cartas e seus cheiros e suas letras e seus papeis amarelados ainda me trazem grande nostalgia.

Essa nostalgia me pegou com tudo ontem, quando fui assistir a peça “Tudo que eu queria te dizer”, homônimo do livro de Martha Medeiros, escritora que muito admiro. Na verdade, a nostalgia já iniciou a caminho do Centro Cultural Correios, quando Karla não parava de falar do passado e de todas as histórias e pessoas que lembrávamos ter passado pela nossa adolescência, e parecíamos duas velhinhas saudosas no auge de nossos vinte e poucos anos. E depois, ver Ana Beatriz Nogueira interpretando as missivas escritas por Martha, foi de arrepiar. Impossível não chegar em casa com vontade de reler todas as cartas guardadas: as recebidas, os rascunhos, as não enviadas, as não assinadas... Impossível não querer escrever uma carta a alguém, com a minha letra, com o meu perfume, e enviar pelo Correios.

Isa Lacerda.

PS. Para quem for do Rio ou estiver na cidade, a temporada no CCC vai até dia 24 de outubro, e vale super a pena!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Olhar de Turista

Quando somos turistas, nossos olhos estão sempre voltados para o belo. As ruas são mais bonitas, as pessoas mais simpáticas, o clima agradável, até nossa disposição muda! Andamos leves, despreocupados, como se o tempo fosse infindável. Fazer coisas bobas como correr na rua, tomar um sorvete, ficar horas admirando a paisagem e sentir o cheiro do ar tornam-se momentos tão especiais, como se não existisse ruas, sorvetes, cenários e cheiros gostosos no nosso lugar comum.

Estar num lugar diferente nos leva a uma excitação florida. Ficamos meio abobados com as pequenas coisas, acordamos sorrindo, e renovamos as energias a cada manhã. Não há cansaço.

“Se faltar calor, a gente esquenta. Se ficar pequeno, a gente aumenta. E e se não for possível, a gente tenta..."

Aquele amigo de viagem, que você já está mais que acostumado a todos os humores do cotidiano, ganha um novo brilho. Como turista, você não enxerga de forma diferente apenas as novidades. O outro de todo dia torna-se diferente também, você se vê diferente, se comporta diferente. Diante do novo você dá o melhor de si: o melhor sorriso, o melhor humor, a melhor roupa, a maior coragem... E embora você queira mostrar seu lado mais bonito, você perde totalmente a vergonha de parecer ridículo, e não se importa em rodopiar de alegria feito uma doida em meio as flores, em dar o beijo mais apaixonado, em ser feliz independente do que os outros pensem.

Voltar pra casa pode até ser um pouco dolorido, mas é imprescindível que se volte, não apenas por que temos nossos compromissos com o cotidiano. É preciso voltar, sobretudo, para que o encanto das novidades permaneça. É preciso voltar para que as fotografias sejam belas lembranças. Voltamos por que só o contraste dá realidade pode dar brilho ao sonho, e não podemos deixar de sonhar, mas também não podemos tirar os pés do chão. E se tem algo que nos motiva ainda mais a voltar, é que sempre, sempre tem alguém nos esperando, e como é bom ter quem nos receba em nossos retornos, em nossas idas e vindas... Então voltamos, e sempre trazemos conosco um pouco mais em nosso olhar.

Isa Lacerda.

Ps. Aproveito este espaço para agradecer ao amigo blogueiro Max, por ter deixado este meu lugar com esse novo visu: chic, clean e lindoo!!! Ameeeeiiii!!! Obrigada pelo carinho e sobretudo pela paciência com a minha ignorância internética! rsrsrs Bjooo!!!

domingo, 12 de setembro de 2010

Ritual

A moça disse que era auspicioso acender uma lamparina em homenagem a alguém. Podíamos desejar coisas boas aos mortos e também aos vivos. Então eu pensei em você, em todos os morreres e viveres seus. Era pra pedir a Buda, mas eu pedi a Deus, ou a qualquer força maior que guia nossas vidas e pode ter outros tantos nomes.

Eu pedi luz para seus caminhos, clareza para suas escolhas. E pedi também felicidade, muita felicidade na sua vida, na sua família, no trabalho que você faz com tanta dignidade. Eu disse a Deus que sofrimento é essencial à nossa vida, que eu sei que é preciso algumas dores para que reconheçamos o valor de nossa existência, e até mesmo para que mereçamos alguma felicidade. Mas eu disse também que você já sofreu demais, que estava na hora de você ser feliz, que você merecia sim ser muito feliz. Pedi a Deus que permitisse morrer todas as suas mágoas, toda tristeza do seu coração, que amanhã você nascesse mais uma vez, uma nova pessoa. Alguém de alma mais leve, de coração tranquilo, capaz de sorrir com alegria pela vida que fez. Eu sei que Ele sabe de todas as coisas, mas eu pedi mesmo assim, e eu sei que ainda assim Ele me ouviu com toda sua atenção.


Então escrevi seu nome completo, esse nome que acho de uma sonoridade tão linda, e o pronunciei baixinho, cantarolando, emocionada com a verdade do que escrevi. Depositei o papel na caixinha para os monges orarem por ti e acenderem a lamparina por mim. O fiz acreditando que meu desejo seria capaz de transformar sua vida, acreditando que alguém iria me atender: Deus, Buda, Alá, Olorum, ou essa força superior que pode ter outros tantos nomes.

Isa Lacerda.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Hoje...

...
"É assim que me sinto: amanhecendo."
Caio Fernando Abreu

imagem: tipika.blogspot.com




Sem Mandamentos


Hoje eu quero a rua cheia de sorrisos francos
De rostos serenos, de palavras soltas
Eu quero a rua toda parecendo louca
Com gente gritando e se abraçando ao sol
Hoje eu quero ver a bola da criança livre
Quero ver os sonhos todos nas janelas
Quero ver vocês andando por aí
Hoje eu vou pedir desculpas pelo que eu não disse
Eu até desculpo o que você falou
Eu quero ver meu coração no seu sorriso
E no olho da tarde a primeira luz
Hoje eu quero que os boêmios gritem bem mais alto
Eu quero um carnaval no engarrafamento
E que dez mil estrelas vão riscando o céu
Buscando a sua casa no amanhecer
Hoje eu vou fazer barulho pela madrugada
Rasgar a noite escura como um lampião
Eu vou fazer seresta na sua calçada
Eu vou fazer misérias no seu coração
Hoje eu quero que os poetas dancem pela rua
Pra escrever a música sem pretensão
Eu quero que as buzinas toquem flauta-doce
E que triunfe a força da imaginação.


(Oswaldo Montenegro)