quinta-feira, 29 de julho de 2010

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você


Tudo isso é tão antigo, e ainda tão estranho...

É olhar pra você e ainda não saber o porquê, mas sentir que nada é mais certo que isso, que nós dois juntos. E eu sei que você também se pergunta. Às vezes eu te percebo perdido, e você também não sabe explicar direito o que é essa vontade toda de estar aqui. E ficamos assim, eu em você, você em mim. E a gente brinca tentando se explicar. E você se enrola tentando inventar em mim uma qualidade que não te incomode em nada. E eu não exito em dizer estas suas manias que me irritam. E a gente diz: apesar de tudo, eu te amo. A gente sempre diz essa frase sorrindo, brincando, tentando esconder a seriedade das nossas falhas, dos nossos erros. E às vezes, sorrindo, uma lágrima escorre, porque a gente também se envergonha de não saber o que fazer. Mas sorrimos, sobretudo, porque também sabemos dos nossos acertos, das nossas conquistas, da nossa beleza.

E a gente não explica esse amor, porque nossas qualidades nos fazem tão comuns quanto qualquer outra gente boa nesse mundo. Se só isso bastasse, poderíamos querer viver pra sempre com qualquer outro bom cristão. Mas algo me diz que só tinha de ser com você, meu amor. Com você e com tudo isso que vem junto de ti, das mais belas grandezas aos mais doloridos espinhos. Porque é disso que somos feitos, de sonhos e realidades, de lágrimas e sorrisos.

Eu acho tão engraçado quando você reclama desse meu jeito esquisito, mas diz que não quer que eu mude em nada. Você também ama meus defeitos. E olha, eu também não sei se te gostaria tanto se você fosse daquele jeito que eu desenhei num diário infantil. É mesmo esse teu jeito parecido e contrário de mim que me anima, que me faz querer te buscar todos os dias, e enche meus olhos e coração de uma vontade danada de viver.

Apesar de toda estranheza, de todo o conhecido e desconhecido, estranho seria se eu não me apaixonasse por você. Te amo.



quinta-feira, 22 de julho de 2010

Um peso, duas medidas.

Eu sei que viver, às vezes, dói. E não dói pouco não, temos “enes” motivos pra nos entristecermos todos os dias. Basta acordar e ligar a televisão. Ou abrir os jornais. Ou sair à rua. Mas o que eu percebo é que na maioria das vezes estamos tristes por outros motivos “menores”. Não são sempre as grandes dores do mundo que nos entristecem diariamente. Nossas dores internas, pessoais, são sempre as mais urgentes, as mais sofríveis, por menores que sejam. Basta uma coisinha mínima não ser do jeito que gostaríamos, e já se torna motivo de tristeza. Então porque não basta uma coisinha mínima dar certo para que nos tornemos felizes?

terça-feira, 20 de julho de 2010

20 de Julho

Considero o dia de hoje um dos mais bonitos do ano, embora esse motivo me sustente por todos os outros dias. E acho legítimo que se tenha uma data específica pra comemorar algo importante. Gosto de rituais, de encontros marcados. E de todas as datas importantes, essa é a que eu posso comemorar com a maior liberdade de quem sabe que acertou, porque se tem uma coisa que eu aprendi a fazer bem feito nessa vida, com certeza foi amizade.

Trago comigo amigos que fiz desde a mais tenra infância. Por onde passei – escolas, bairro, grupo jovem, faculdade, trabalhos – construí e mantive relações de amizade verdadeiras das quais muito me orgulho. Não são grandes em quantidade, mas sem dúvida, grandes em qualidade, em liberdade, em amor... Grandes encontros!

“Quem encontra um amigo, encontra um tesouro” Eclesiástico, Cap. 6, vers. 14

Posso dizer que sou imensamente agraciada por tão belos encontros, encontros de almas que se reconhecem e se alimentam. Quintana disse que a amizade é um amor que nunca morre, e sinto mesmo a eternidade desse sentimento dentro de mim quando penso nesses corações tão queridos que aquecem minha alma.

E tudo que penso em dizer pra vocês hoje, meus amigos, já foi dito, pois nunca quis deixar pra amanhã dizê-los o quanto são importantes pra mim. Então hoje eu só quero agradecer mais uma vez, pelas doações, pelas trocas, pelos sorrisos, pelas lágrimas, pelo suor, pelo verbo, pelas aprendências, pela beleza, pela leveza... enfim, por tantos e tantos momentos compartilhados, sejam de longe, sejam próximos, sejam virtuais, sejam de ontem, sejam de agora, sejam de sempre.

Sintam-se longamente abraçados...



“Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos.”

(Vinícius de Moraes)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Blogagem coletiva: Tempos de Criança

Veríssimo, em seu texto “Vivendo e Desaprendendo”, do livro “Comédias para se ler na escola” (2001), fala das suas habilidades que foram perdidas com a adultização, coisas que independem do cansaço físico natural do envelhecimento, tais como fazer uma cola caseira, construir uma pipa ou jogar bolinhas de gude. Ele diz que a famosa frase “vivendo e aprendendo” deveria ser revista, pois na realidade vamos mesmo é vivendo e desaprendendo um monte coisas que éramos experts na infância, e não o contrário.

Ao receber o convite do Menino-homem para essa blogagem coletiva sobre tempos de infância, me remeti ao texto de Veríssimo e parei pra pensar em coisas minhas que se perderam ao deixar a infância pra trás. Porém não digo sobre essas habilidades manuais, mas sim sobre os gostos e sensações que ficaram naqueles tempos de criança.

Parece-me que, com o tempo, os cheiros da infância vão se perdendo. A rua onde fui criança nunca mais teve o mesmo cheiro daquele dia em que tiramos a rodinha da bicicleta. Meu pai me soltava e corria junto a me proteger. O cheiro do ar misturado com chão de terra, a sensação do vento soprando no rosto, o orgulho da nova conquista e o esforço pra manter o equilíbrio, se transformam em retrato dos mais belos em minha mente.

Até mesmo o cheiro do café da minha avó ficou diferente. Eu, que nunca tomei café, amava aquele cheirinho do café fresquinho varando portão afora. Era o cheiro mais gostoso pra receber a noite, pra me receber ao chegar da escola, o sabor do aconchego recebendo quem chegasse. E o gosto das coisas? Até mesmo o sabor das comidas parece ter mudado. Eu amava certos doces que hoje o paladar não mais agrada, como paçoca, maria mole... A sensação que eu tenho é que esses doces existem hoje de outra forma, com outros ingredientes, não é possível que sejam aqueles mesmos que eu me deliciava outrora!

Isso sem falar na sensação de grandeza de tudo que nos cercava: o quintal parecia imenso, a piscina de 1000 litros era um mar, e a alegria de partilhar simples momentos com outras crianças não tinha tamanho. A gente vai crescendo e tudo vai diminuindo: o quintal, a piscina, a alegria nas pequenas coisas... o tempo.

O que dói nisso é perceber que a rua continua ali, não mais de terra, mas rua. A vovó continua coando o café e fazendo suas gostosuras, e ainda me esperando chegar como se eu fosse aquela criança. As coisas em si, embora muitos digam que não, continuam ali. Talvez as crianças de hoje tenham ainda o mesmo encantamento com tudo que as rodeiam. O fato, a verdade nua e crua, é que quem mudou fui eu.

Eu fui crescendo e desaprendendo não só a fazer coisas como virar cambalhota e girar o bambolê por todo o corpo. Eu também desaprendi a sentir de certos jeitos. O olfato ficou menos sensível, a visão mais destorcida, menos encantada... Mas ainda há algo infantil cá dentro, sentimentos e sensações que, assim como uma criança, não sei explicar.

Se bem for verdade que ao envelhecermos nos tornamos crianças novamente, ainda espero, ainda busco, voltar a olhar e sentir como antes, com olhos e sensações infantis. Olhos que enxerguem mais beleza nas coisas e principalmente nas pessoas.

*Ontem, menino. Hoje, menino-homem. Parabéns pelo aniversário do blog! Parabéns por saber partilhar carinho em forma de palavra...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A Seta e o Alvo

Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.
Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.
Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.
Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.
Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.
Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.
É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?
Sempre a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?

(Paulinho Moska e Nilo Romero)

segunda-feira, 12 de julho de 2010














Porque ela vai chegando sem perceber,
e sem perceber vai se espalhando,
e sem perceber vai perdendo seu jeito pousado,
e quando percebe já ocupou todos os cômodos.

Ela quer se recolher,
mas sem perceber roda a saia,
sem perceber solta a fita,
e quando percebe está na dança.

Ela nem sabe dançar,
mas sem perceber o corpo balança,
sem perceber seu par a alcança,
e quando percebe acabou a dança.

E assim,
sem se dar conta
ela parte.

domingo, 4 de julho de 2010

Interlúdio

As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.

Não me digas que há futuro
ou passado.

Deixa o presente – claro muro
sem coisas escritas.

Deixa o presente, não fales.
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.

Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.

Fico ao teu lado.


(Cecília Meireles)












É sempre assim que quero estar...
 Ao teu lado.