quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Da leviandade do riso

Não tenho nada contra pessoas felizes, divertidas e engraçadas. Ao contrário, nada melhor que uma companhia bem humorada, alguém que te faça rir e esquecer as durezas da vida de vez em quando. Mas como diz a música de Frejat, rir de tudo é desespero.

Tenho percebido pessoas rindo absurdamente de qualquer coisa, por tudo e por nada. Outro dia estava no teatro com amigas, e ficamos constrangidas com o riso de algumas pessoas nos momentos menos apropriados. A atriz interpretava uma idosa revelando as dores de sua velhice, que vai muito além dos aspectos físicos que a idade impõe, quando de repente surge uma gargalhada solitária no meio da platéia, que é rapidamente seguida de outras. E várias vezes isso acontecia, me deixando até um pouco confusa: Será que não entendi a piada??? Não... Não era piada, não havia mesmo motivos pra risos. Não que as pessoas tenham que conter suas emoções o tempo todo, mas numa situação dessas fica clara a falta de noção do sujeito....

Parece que as pessoas têm saído de casa com um único propósito: se divertir e morrer de rir a qualquer custo. Ri-se de qualquer coisa: de piadas mal contadas às desgraças alheias, e até mesmo das próprias desgraças. Dizem que o riso pode ser até remédio pra alguns males, mas acho que também pode ser sintoma de total desespero.

Esses dias um amigo me disse que eu tenho “espírito de velha”, porque eu lhe contei que achei o stand-up comedy, que assisti no festival de teatro de Angra, uma grande porcaria, que não achei graça de nada e até dormi em meio a apresentação. Sinceramente, não acho mesmo a mínima graça em piadas homofóbicas, festival de palavrões e mau gosto. Pra mim foi um verdadeiro espetáculo de grosseria, e fico “embasbacada” de ver o quanto as pessoas valorizam este tipo de circo. Foi o gênero que teve os ingressos esgotados mais rápido! Minto, só perdeu pra “Doidas e Santas” interpretada por Cissa Guimarães, afinal, rir da desgraça real dos outros deve ter um sabor especial...

Como disse, não tenho nada contra a alegria, e até me considero uma pessoa divertida. Só não acho que pra ser divertida tenho que ficar gargalhando a respeito de tudo, como se o mundo fosse acabar e eu tivesse que morrer feliz (morte de aparências, como se a vida não bastasse). Felicidade e alegria podem também se manifestar de outras formas, que não o riso escancarado (o que também pode ser muito legítimo).

Penso que a vida é uma grande “mistureba” de felicidades, tristezas, alegrias, frustrações, conquistas, compaixão, fantasias, desesperos, loucuras, êxtases e centenas de sentimentos que possam existir, e tudo infinitamente finito. Então não dá pra ser só alegre e rir de tudo, assim como não dá pra ser só triste e lamentar por tudo. O que é sempre válido é a reflexão sobre o que vemos e ouvimos, ou então nós é que nos transformamos em palhaços.

Isa Lacerda.

Aproveito pra deixar aqui o poema que deve ter inspirado Frejat, desejando a todos os professores e amigos, um belo fim de semana e muitos sonhos alimentando a alma. Forte abraço em vocês!!!


"Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista
em rejuvenescer
E
que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar "

Este poema circula na internet com autoria de Victor hugo, porém o escritor Sergio Jockymann declara ser o autor. Se alguém souber ao certo quem o escreveu me avise pra eu dar os créditos certinho. Bj!


5 comentários:

  1. Muito bom o texto rsrsrs .Mas vc rir de tudo pode ser sim um mecanismo de defesa ou uma forma de fugir da realidade, daí sorri pra não chorar, mas é claro que em toda regra cabe excessão, deve ter gente que gargalhava por estar o tempo todo de bem com a vida, ainda assim acredito que nos dias de hj, não dê pra ficar de bem com a vida todos os dias e o dia todo. bjs

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  2. Roger, eu acho que o riso é essencial em nossas vidas. Deve despertar um monte de coisas boas na gente, tem até a terapia do riso, né?. Rir sem motivo aparente, por estar de bem com a vida, é uma coisa, mas rir das desgraças da vida o tempo todo é outra bem diferente.

    Sorrisos pra você! :)

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  3. Oi, Isa

    Às vezes, acho muito estranha a nossa relação com o riso. Rir é bom demais, seja numa conversa descontraída com amigos ou assistindo a um filme, lendo um livro. Já percebeu que é sempre quando não podemos rir que a vontade aumenta e fica praticamente incontrolável? Você já deve ter passado por isso, todo mundo já passou por isso.

    No caso citado no texto, acredito que seja desespero ou a chamada falta de desconfiômetro mesmo. Vai saber...

    Ótimo texto.

    Bjs

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  4. Oi Isabele, (gosto de escrever o teu nome assim inteiro...)

    Pois é, o comportamento da platéia em teatros ou cinema pode estar fora de sintonia assim como alguns comentários nada tem a ver com o post, não é mesmo? As pessoas são diferentes e estão muitas vezes diferentes. Algumas desequilibram outras, mobilizam níveis de tolerância, em sala percebemos tantas diferenças e não podemos deixr de pensar nos valores que moldam tais condutas, porém, estamos aqui para ver porque o choro assim como o riso nos incomodam, os exageros e os sem-jeitos... Pensar na formação da platéia, penso que uns riem da forma de rir do outro, e daí vem ao que Max comentou, rir na hora imprópria de coisas que nada tem a ver com o assunto em pauta...
    Mas, que é chato sabemos, lidar com o diferente e muito e educar nosso coração, nível de tolerância.
    Viu aquele programa "Hipertensão" da Globo? É coisa de doido...
    Não posso deixar de passar por aqui e dizer o quanto gosto de aqui chegar e ler o que você nos chama a refletir, a dizer, a sentir, a escrever... Faz uma boa escola aqui professora, de sensibilidade e re-significados... Parabéns pelo dia de ontem e sempre!

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  5. Oi Isa. Pois é. como voce disse, "tudo infinitamente finito." Os sentimentos é preciso para deixa cada etapa, e momento de nossa vida especial, que graça seria se tudo fosse engraçado, e nao pudessemos aprender atraves de algo mais serio?

    E realmente as pessoas tem ido muito nesses tipos de apresentações ou se deliciado em coisas do genero. Acho que é uma fuga da realidade, acreditando que por estarem rindo, e participando de coisas "engraçadas" nao precisam encarar a realidade da vida, e da própria vida.

    Realmente esses tipos de apresentações sobrevivem a custas de orgulho, de pensamentos hipócritas e individuais. Como também estes videos no youtube onde pessoas acabam - literalmente - com certos tipos de musicas, filmes e etc... falta um pouco de bom senso da humanindade de parar de financiar esse tipo de comportamento.

    Ainda bem que existe pessoas tao belas quanto voce. que consegue observar algo belo, de algo feio.


    beijos carinhosos, leo

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