sábado, 19 de novembro de 2011

Anjos

Eu não tenho o direito de pensar que está tudo perdido. Não, não está. E nesses dias tão difíceis, me mostram diariamente que é preciso acreditar na vida, e sem saber, me dizem que ainda vale a pena confiar em alguém, ter amigos com quem sorrir e com quem chorar. E o dizem sem dizer uma palavra sequer, pois são nos mínimos gestos que o cuidado se faz presente. Amigos são assim, não precisam de atos mirabolantes para se mostrar, são como anjos que chegam na calada da noite para fazer um cafuné, para mostrar que nunca estamos sós. 


domingo, 13 de novembro de 2011

A escola

Escola é...
O lugar onde se faz amigos
Não se trata só de prédios, salas, quadros,
Programas, horários, conceitos...
Escola é, sobretudo, gente,
Gente que trabalha, que estuda,
Que se alegra, se conhece, se estima.
O diretor é gente,
O coordenador é gente, o professor é gente,
O aluno é gente,
Cada funcionário é gente.
E a escola será cada vez melhor
Na medida em que cada um
Se comporte como colega, amigo, irmão.
Nada de “ilha cercada por todos os lados”.
Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir
Que não tem amizade a ninguém
Nada de ser como o tijolo que forma a parede,
Indiferente, frio, só.
Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
É também criar laços de amizade,
É criar ambiente de camaradagem,
É conviver, é se “amarrar nela”!
Ora, é lógico...
Nunca escola assim vai ser fácil
Estudar, trabalhar, crescer,
Fazer amigos, educar-se,
Ser feliz.



(Paulo Freire)



Em homenagem à equipe da Escola Municipal Maria Eliondas dos Santos
(falta Fabiana)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O que há

Foi no mínimo estranho andar pela rua e ver o passado na calçada. Identifiquei-o no mesmo instante que meus olhos apontaram sua direção. Sorri um tanto desconcertada e por alguns segundos não soube o que fazer: passar direto como quem não quer nada, ou apertar-lhe as mãos e convidá-lo para uma prosa? Acabei decidindo que nada de “ou isso ou aquilo”; apenas o vi passar, com a graciosidade da menina que ainda não se foi por completo; com uma sutil tristeza que ainda persiste e com aquele andar descompassado que ainda não se ajeitou ao corpo. Feliz, sim, embora nunca tivesse aparentado alguma alegria esfuziante. Apenas reparei. E até que achei bonito todo aquele porvir... 
O que passou parece-nos sempre mais bonito. Mas quando voltei aos meus agoras e olhei-me no espelho, tudo se repetiu. O passado é o que há. Pouco da essência se perdeu. Era a mesma menina da calçada, o mesmo olhar triste e o mesmo caminhar de pernas trocadas. Ainda feliz, sim. E já até aprendeu a se mostrar assim.



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Lula, o câncer, o SUS e o Sírio (Elio Gaspari)

As pessoas que estão reclamando porque Lula não foi tratar seu câncer no SUS dividem-se em dois grupos: um foi atrás da piada fácil, e ruim; o outro, movido a ódio, quer que ele se ferre. Na rede pública de saúde, em 1971, Lula perdeu a primeira mulher e um filho. Em 1998, o metalúrgico tornou-se candidato à Presidência da República e pegou pesado: "Eu não sei se o Fernando Henrique ou algum governador confiaria na saúde pública para se tratar". Nessa época acusava o governo de desossar o SUS, estimulando a migração para os planos privados. Quando Lula chegou ao Planalto, havia 31,2 milhões de brasileiros no mercado de planos particulares. Ao deixá-lo, essa clientela era de 45,6 milhões, e ele não tocava mais no assunto.

Em 2010, Lula inaugurou uma Unidade de Pronto Atendimento do SUS no Recife dizendo que "ela está tão bem localizada, tão bem estruturada, que dá até vontade de ficar doente para ser atendido". Horas depois, teve uma crise de hipertensão e internou-se num hospital privado.

Lula percorreu todo o arco da malversação do debate da saúde pública. Foi de vítima a denunciante, passou da denúncia à marquetagem oficialista e acabou aninhado no Sírio-Libanês, um dos melhores e mais caros hospitais do país. Melhor para ele. (No andar do SUS, uma pessoa que teve dor de ouvido e sentiu algo esquisito na garganta leva uns 30 dias para ser examinada corretamente, outros 76, na média, para começar um tratamento quimioterápico, 113 dias se precisar de radioterapia. No andar de Lula, é possível chegar-se ao diagnóstico numa sexta e à químio, na segunda. A conta fica em algo como R$ 50 mil.)

Lula, Dilma Rousseff e José Alencar trataram seus tumores no Sírio. Lá, Dilma recebeu uma droga que não era oferecida à patuleia do SUS. Deve-se a ela a inclusão do rituximab na lista de medicamentos da saúde pública.

Os companheiros descobriram as virtudes da medicina privada, mas, em nove anos de poder, pouco fizeram pelos pacientes da rede pública. Melhoraram o acesso aos diagnósticos, mas os tratamentos continuam arruinados. Fora isso, alteraram o nome do Instituto Nacional do Câncer, acrescentando-lhe uma homenagem a José Alencar, que lá nunca pôs os pés. Depois de oito anos: 1 em cada 5 pacientes de câncer dos planos de saúde era mandado para a rede pública. Já o tucanato, tendo criado em São Paulo um centro de excelência, o Instituto do Câncer Octavio Frias de Oliveira, por pouco não entregou 25% dos seus leitos à privataria. (A iniciativa, do governador Geraldo Alckmin, foi derrubada pelo Judiciário paulista.)

A luta de José Alencar contra "o insidioso mal" serviu para retirar o estigma da doença. Se o câncer de Lula servir para responsabilizar burocratas que compram mamógrafos e não os desencaixotam (as comissões vêm por fora) e médicos que não comparecem ao local de trabalho, as filas do SUS poderão diminuir. Poderá servir também para acabar com a política de duplas portas, pelas quais os clientes de planos privados têm atendimento expedito nos hospitais públicos.

Lula soube cuidar de si. Delirou ao tratar da saúde dos outros quando, em 2006, disse que "o Brasil não está longe de atingir a perfeição no tratamento de saúde". Está precisamente a 33 quilômetros, a distância entre seu apartamento de São Bernardo e o Sírio.


(Artigo Publicado por Elio Gaspari na Folha de São Paulo de 02/11/11)


Minha mãe, assim como outros tantos brasileiros, está em tratamento contra o câncer pelo SUS. Após o diagnóstico, que demorou mais de um mês (na rede privada), tivemos que esperar mais de 2 meses para o início efetivo do tratamento (quimioterapia) em hospital conveniado ao SUS. Quase quatro meses de espera estão fazendo toda a diferença no tratamento, pois foi o tempo necessário para o tumor dobrar de tamanho.

"Só há que sublinhar, há que ressaltar, há que insistir aos brasileiros, meus irmãos: corações, fígados, sangue e rins – são todos muito iguais. Não há diferenças relevantes. O cargo ocupado não pode, não poderia, não deveria fazer a diferença entre a vida e a morte." (Fernando Vieira)