domingo, 31 de outubro de 2010

Sutilmente

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe



E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce
Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti



Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti...


(Skank - Samuel Rosa / Nando Reis )

domingo, 24 de outubro de 2010

Eu árvore

Quando semente, fui plantada na esperança de vingar como a árvore de onde fui tirada. Dei galhos longos, porém não tão fortes quanto os dos meus ancestrais. No entanto, flexíveis o suficiente para não quebrar ao suportar o peso das chuvas e dos ventos. E belos o suficiente para inspirar o pouso e o canto dos passarinhos.

Gosto de ser árvore assim: leve, pequena e de raízes não tão fincadas ao chão, o que sempre me possibilitou mudar de lugar, e por vezes até voar. Saio por aí ornamentada com flores de primavera em meio às folhas verdes, ora me exibindo, ora dando sombra. Mas no outono procuro me recolher, preenchendo meu chão de secas folhas amarelas, fazendo colchão para quem tiver de chegar.

Além dos passarinhos, o que me deixa feliz é a visita dos beija-flores. São seus beijos delicados e passageiros que me fazem ficar colorida. Floreio para o beija-flor beijar-me. Pena que beija-flores só vêm na primavera...

Fiéis mesmo são esses passarinhos, que pousam em meus finos galhos, que cantam de inverno a verão, mesmo que eu mude de lugar, mesmo quando mudam as estações. É para eles que me faço florir agora...

Isa Lacerda.

domingo, 17 de outubro de 2010

Alucinação

Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Nem em tinta pro meu rosto
Ou oba oba, ou melodia
Para acompanhar bocejos
Sonhos matinais...


Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Nem nessas coisas do oriente
Romances astrais
A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais...


Um preto, um pobre
Uma estudante
Uma mulher sozinha
Blue jeans e motocicletas
Pessoas cinzas normais
Garotas dentro da noite
Revólver: cheira cachorro
Os humilhados do parque
Com os seus jornais...


Carneiros, mesa, trabalho
Meu corpo que cai
Do oitavo andar
E a solidão das pessoas
Dessas capitais
A violência da noite
O movimento do tráfego
Um rapaz delicado e alegre
Que canta e requebra
É demais!...


Cravos, espinhas no rosto
Rock, Hot Dog
"Play it cool, Baby"
Doze Jovens Coloridos
Dois Policiais
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida...


Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Longe o profeta do terror
Que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais...














(BELCHIOR)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Da leviandade do riso

Não tenho nada contra pessoas felizes, divertidas e engraçadas. Ao contrário, nada melhor que uma companhia bem humorada, alguém que te faça rir e esquecer as durezas da vida de vez em quando. Mas como diz a música de Frejat, rir de tudo é desespero.

Tenho percebido pessoas rindo absurdamente de qualquer coisa, por tudo e por nada. Outro dia estava no teatro com amigas, e ficamos constrangidas com o riso de algumas pessoas nos momentos menos apropriados. A atriz interpretava uma idosa revelando as dores de sua velhice, que vai muito além dos aspectos físicos que a idade impõe, quando de repente surge uma gargalhada solitária no meio da platéia, que é rapidamente seguida de outras. E várias vezes isso acontecia, me deixando até um pouco confusa: Será que não entendi a piada??? Não... Não era piada, não havia mesmo motivos pra risos. Não que as pessoas tenham que conter suas emoções o tempo todo, mas numa situação dessas fica clara a falta de noção do sujeito....

Parece que as pessoas têm saído de casa com um único propósito: se divertir e morrer de rir a qualquer custo. Ri-se de qualquer coisa: de piadas mal contadas às desgraças alheias, e até mesmo das próprias desgraças. Dizem que o riso pode ser até remédio pra alguns males, mas acho que também pode ser sintoma de total desespero.

Esses dias um amigo me disse que eu tenho “espírito de velha”, porque eu lhe contei que achei o stand-up comedy, que assisti no festival de teatro de Angra, uma grande porcaria, que não achei graça de nada e até dormi em meio a apresentação. Sinceramente, não acho mesmo a mínima graça em piadas homofóbicas, festival de palavrões e mau gosto. Pra mim foi um verdadeiro espetáculo de grosseria, e fico “embasbacada” de ver o quanto as pessoas valorizam este tipo de circo. Foi o gênero que teve os ingressos esgotados mais rápido! Minto, só perdeu pra “Doidas e Santas” interpretada por Cissa Guimarães, afinal, rir da desgraça real dos outros deve ter um sabor especial...

Como disse, não tenho nada contra a alegria, e até me considero uma pessoa divertida. Só não acho que pra ser divertida tenho que ficar gargalhando a respeito de tudo, como se o mundo fosse acabar e eu tivesse que morrer feliz (morte de aparências, como se a vida não bastasse). Felicidade e alegria podem também se manifestar de outras formas, que não o riso escancarado (o que também pode ser muito legítimo).

Penso que a vida é uma grande “mistureba” de felicidades, tristezas, alegrias, frustrações, conquistas, compaixão, fantasias, desesperos, loucuras, êxtases e centenas de sentimentos que possam existir, e tudo infinitamente finito. Então não dá pra ser só alegre e rir de tudo, assim como não dá pra ser só triste e lamentar por tudo. O que é sempre válido é a reflexão sobre o que vemos e ouvimos, ou então nós é que nos transformamos em palhaços.

Isa Lacerda.

Aproveito pra deixar aqui o poema que deve ter inspirado Frejat, desejando a todos os professores e amigos, um belo fim de semana e muitos sonhos alimentando a alma. Forte abraço em vocês!!!


"Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista
em rejuvenescer
E
que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar "

Este poema circula na internet com autoria de Victor hugo, porém o escritor Sergio Jockymann declara ser o autor. Se alguém souber ao certo quem o escreveu me avise pra eu dar os créditos certinho. Bj!


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Bom e Gostoso

(Por Karina dos Santos)

De manhãzinha, logo que você acorda… É bom tentar. É bom porque tira você da moleza da noite e dá aquela energia pra começar o dia com um sorriso daqueles. Pode ser um pouquinho antes de sair pro trabalho, no meio daquela correria… Meio apressadinho, talvez em cima da mesa do café da manhã ou encostado no sofá da sala. Aí também fica bom. Durante o trabalho, não é muito recomendável; mas se for na hora do almoço, depois de ter ido ao restaurante… É uma delícia! Em alguns dias, durante o expediente da tarde, também pode ser maravilhoso… Até mesmo no local de trabalho, se você der uma escapadinha pra uma sala vazia, um elevador parado ou mesmo no banheiro. Sempre com a porta fechada e aquele cuidado, claro, principalmente se o chefe for bravo e os colegas de trampo, invejosos. Ao chegar em casa… Também pode ser bom, antes, durante ou depois daquele banho. Agora, bom mesmo, gostoso, delicioso, é um pouco antes de dormir, depois do jantar. Devagarinho, com disposição… Aí não tem pra ninguém. É bom demais.

Tem gente que prefere e defende fazer sozinho. Tem quem faça a dois. E há mesmo quem faça a três, quatro ou mais. Normalmente, as pessoas têm ciúme e preferem fazer com um número de envolvidos reduzido ao máximo mesmo. Particularmente, não gosto de dividir o que é meu com ninguém mais. Mas não vamos condenar quem gosta… O fato é que todo mundo, de um jeito ou de outro, mais ou menos, querendo ou não, evitando ou não… Um dia, acaba fazendo. Tem quem prefira se envolver com um de confiança, conhecido, com quem tem um contato longo e duradouro, e é fiel a esse até o fim. Tem quem prove qualquer um, sem distinção. E tem quem seja um pouco seletivo, e experimente algo diferente aqui e ali, mas sempre volta para o de sempre. Gosto, inclusive nisso, não se discute. E muito menos se lamenta.


Claro, tem inúmeros jeitos e lugares de fazer. Sentado. Em pé, encostado perto da janela. Deitado. De lado. De frente. De costas. Na sala, no quarto, no banheiro, na cozinha, no quintal, dentro do carro. No cinema, no motel, no mato, na rede, em frente a TV, atrás do armário, no cantinho do escritório. Tem quem curta se exibir bastante, abertamente, matando todo mundo de vontade. Tem quem faz escondido. E quem faz discretamente. Tem quem consiga de graça. Tem quem pague caro. E tem quem ganhe de presente, como prova de amor ou carinho. Tem quem faça uma vez por mês, ou por ano, e quem fica anos sem fazer. E tem quem faça sempre, toda hora, todo dia.

Tem quem faça com carinho, devagarinho, sentindo cada momento. Tem quem faça rápido, com voracidade, e aquela vontade quase animalesca.

E na hora de escolher a parceria? Nossa, é uma luta. Sim, porque o jeitinho pode ser de todo jeito, tem pra todo gosto. Comprido, fino, grosso, mais achatado, mais arredondado, maior, menor, bonito, feio, limpo, sujo, cheiroso, sem graça, de boa e de má qualidade. E dá pra achar em qualquer lugar, desde a porta do cinema até a internet. E fica bom com sorvete, com bebida, com fruta, com leite condensado, com creme de morango, com doce de leite, com goiabada, com vinho, com leite gelado. Tem de consistências, cheiros, aparências, temperaturas, gostos e apresentações inúmeras! E, sempre que a gente escolhe só um, fica pensando como seria se tivesse escolhido aquele outro…

Tem quem demore bastante fazendo. Tem quem faça rapidinho, quase sem sentir o gosto. Pra alguns, o que importa é a quantidade. Pra outros, a qualidade. De qualquer jeito, o apelo está em todo lugar, a toda hora. Na TV, no rádio, na internet, na rua, nos outdoors. Quem faz, fica com cara de satisfeito. E, no fundo, quer sempre mais. Porque é bom! Bom e gostoso. Tem até quem diga que é um pecado capital, e quem diga que o exagero pode causar sérios problemas de saúde. Tem cientistas que explicam as milhares de reações químicas que são desencadeadas a partir desse simples ato, e dão aquela sensação imensa de prazer. A indústria criou milhares de produtos para estimular e incrementar o ato. E nós, o que podemos fazer? Sucumbir, claro.

Tem quem seja obscecado, tem quem goste muito, tem quem goste pouco, tem quem quase não lembra do assunto, tem quem faça por vício ou obrigação.

Eu penso nisso quase sempre, todo dia. E pelo menos uma vez por dia tenho que fazer. Me deixa calma, tranquila e com um sorriso de orelha a orelha.

O fato é que só quem gosta de comer chocolate sabe como é duro ser chocoólatra. Mas é bom e gostoso… Demais. Nham.

Ver mais em mafaldacrescida.com.br

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Nº 1

Geralmente acho mais interessante observar o comportamento da torcida do que o dos participantes do jogo. Foi assim que numa brincadeira despretensiosa de Kart (despretensiosa para nós), fiquei na torcida a observar o orgulho de um casal acompanhando o filho, que ganhava a corrida durante boa parte do tempo. O menino passava orgulhoso perto dos pais, com o olhar sempre atento e seguro, até que dois outros carrinhos passaram a sua frente. Foi então que os pais se transfiguraram: olhares de reprovação para o filho, e de acusação para os demais. O olhar antes seguro do menino, passou a ser de medo e culpa. O terceiro lugar no ranking parecia ser vergonhoso. Enquanto a maior parte das pessoas saiam da “pista” sorrindo da dor nas costas e contando sobre a pequena aventura, o menino saiu calado, juntou-se a seus pais e foi embora, visivelmente triste e decepcionado.

Quando vejo pais depositando nos filhos desejos e interesses que são apenas seus, fico triste por eles, que não sabem reconhecer nos filhos suas reais necessidades, e o pior, sua infância. E fico ainda mais triste em ver nos olhos de uma criança uma grande tristeza por não ter atendido as expectativas daqueles que tanto ama. Pais doentes adoecem seus filhos.

Não pude deixar de me lembrar da lamentável reação do nadador César Cielo nos jogos do Pan-Pacífico, que se sentiu um fracasso por não ter ganhado ouro em sua especialidade, apesar de ter ganhado prata e bronze, além do ouro em outra modalidade. O atleta disse não ter se sentido “ele”, por não ter ganhado naquilo em que é melhor. Será que ele não sabia que, apesar de ser um fenômeno nas piscinas, ele ainda é um ser humano, e portanto, passível de erros, de vitórias e de derrotas? Onde foi parar o espírito esportivo? Ok, neste caso milhões de dólares estão em jogo, e perder não significa só perder uma competição, o que ainda assim não se justifica, mas enfim... E no caso do menino do Kart? Será que estamos todos sendo treinados apenas para ser campeão? E ser campeão é sempre chegar na frente, não importando os meios?

Em um jogo, o que para alguns é apenas uma diversão, para outros parece ser questão de vida ou morte. Para alguns, não importa o segundo o lugar, muito menos o que vir antes disso. Prazer em SER e viver não são levados em consideração, o que importa são os lucros. É valorizado quem chega primeiro, tem poder quem ganha mais votos, tem reconhecimento quem aparece mais. Triste realidade, porque basta olhar para o nosso país para se concluir que, quem chega em primeiro lugar nem sempre é o melhor. Precisamos aprender que mais importante que chegar primeiro, é o caminho percorrido. Perceber os passos da caminhada, tornando-os, muitas vezes, ponto de partida, e refletir principalmente sobre quem nós somos e onde queremos chegar, sem nunca deixar de nos perguntarmos o porquê.   

Isa Lacerda.