sábado, 31 de dezembro de 2011

Caro 2011

Você bem que chegou fazendo festa em mim, mas assim que acordei vi que não era bem assim: o Rio chorava, e eu chorei também. Mas ainda assim eu podia sentir que tudo ia melhorar, que boas notícias viriam. Algumas até vieram mesmo, e eu pude comemorar. No entanto, muitas outras notícias e acontecimentos foram tão terríveis que até hoje meus olhos não secaram. Mas tudo bem, pois é certo que, de alguma forma, a gente cresce. Cresce que nem criança em fase de crescimento: meio que sem querer; o corpo dói e demora a se ajustar à nova forma, mas no fim a gente vê que é necessário. 


Ainda não há nada ajustado aqui. Ainda há muito doendo, profundamente. Mas há amigos, há família e há um desejo enorme de qualquer coisa muito boa. Você está indo embora e eu colocarei um roupa bonita pra dizer adeus. Me esforçarei para sorrir para ti e tentarei não levar mágoas. Passei esses 365 dias contigo tentando acreditar que tudo era pro meu crescimento. E se crescer dói, acho que é isso mesmo que tem sido todos esses dias. 


Então, apesar de tudo, obrigada. E lembre-se de avisar pro seu amiguinho que vai chegar, que venha com mais calma, tá bom?


Bjs e NÃO me liga!

domingo, 11 de dezembro de 2011

Quase carta (ao Zé II)

Oi Zé. Desculpe-me por não retornar o telefonema. Desculpe-me por escrever-te só agora, depois de tantos dias, meses, nem sei... Desculpe-me por não te ligar. Não foi por falta de tempo não, Zé. Não sei porquê, mas às vezes eu simplesmente não ligo, fico deixando pra depois, pra depois... e tudo vai passando. Engraçado que tudo vai passando, mas algumas coisas permanecem pra sempre. Coisas boas e coisas ruins. Eu tenho tentado muito fazer com que as coisas ruins passem rápido, mas nem sempre dá. As coisas boas, eu tento agarrá-las o mais forte que consigo, mas às vezes minhas mãos são pequenas demais e não conseguem segurá-las por muito tempo, então elas acabam escorrendo por entre os dedos como areia de praia. Mais a vida é isso mesmo, a gente segura, empurra, faz como se tudo dependesse exclusivamente das nossas mãos, mas sabemos que não é bem assim.


O Natal está chegando, Zé. Fico pensando que a sua casa deve estar toda decorada de luzes. Aqui em casa, só as luzes das lâmpadas do teto mesmo. Perdi a paciência de enfeitar a vida com pisca piscas, como se isso mudasse realmente alguma coisa. Ando preferindo deixar tudo apagadinho pra ver se acende alguma coisa aqui dentro. Talvez eu consiga agarrar uma luzinha qualquer e segurá-la com os pensamentos. Talvez eu consiga fazer como eu fazia com as velas de meus aniversários de criança que, quando se apagavam, eu as isolava com minhas pequenas mãos até que se acendessem novamente. As outras crianças faziam questão de apagá-las de novo, mas eu conseguia acendê-las outras vezes mais. Por fim, as velas se apagavam de vez, mas mantinha em meu coração alguma luz, alguma quentura. É isso que eu quero neste natal, Zé. Uma luz diferente de pisca piscas, uma luz que nem precisa ser tão colorida, mas que deixe meu coração quentinho, acreditando. Natal luz dentro de mim.

...

Desculpa, Zé. Acho que não liguei porque ando mesmo sem vontade de falar. E agora que comecei a escrever, acho melhor parar. Não quero te escrever uma carta triste. Eu tinha outras coisas para te dizer, coisas mais bonitas para este fim de ano, mas simplesmente as esqueci quando peguei a caneta... O tempo passa tão rápido e tão ríspido e eu me esqueci do tanto que eu tinha guardado pra você.  Ando muito cansada, Zé...


Então, bom Natal. Em 2012 eu apareço com boas notícias.


Abraço afetuoso,


Isabele.





segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Conta pra mim (Ana Jácomo)

Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem a sensação de que sempre esteve aqui, quando eu sei que não estava. Conta por que nada do que diz sobre você me parece novidade, como se eu estivesse lá, nos lugares que relembra, quando eu sei que não estive. Conta onde nasce essa familiaridade toda com os seus olhos. Onde nasce a facilidade para ouvir a música de cada um dos seus sorrisos. Onde nasce essa compreensão das coisas que revela quando cala. Conta de onde vem a intuição da sua existência tanto tempo antes de nos encontrarmos.

Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem o sentimento de que a sua história, absolutamente nova, é como um livro que releio aos poucos e, ao longo das páginas, apenas recordo trechos que esqueci. Conta de onde vem a sensação de que nos conhecemos muito mais do que imaginamos. De que ouvimos muito além do que dizemos. De que as palavras, às vezes, são até desnecessárias. Conta de onde vem essa vontade que parece tão antiga de que os pássaros cantem perto da sua janela quando cada manhã acorda. De onde vem essa prece que repito a cada noite, como se a fizesse desde sempre, para que todo dia seu possa dormir em paz.

Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem essa repentina admiração tão perene. De onde vem o sentimento de que nossas almas dialogavam muito antes dos nossos olhos se tocarem. Conta por que tudo o que é precioso no seu mundo me parece que já era também no meu. De onde vem esse bem-querer assim tão fácil, assim tão fluido, assim tão puro. Conta de onde vem essa certeza de que, de alguma maneira, a minha vida e a sua seguirão próximas, como eu sinto que nunca deixaram de estar.

Conta pra mim por que, por mais que a gente viva, o amor nos surpreende tanto toda vez que vem à tona.

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Muito mais em http://anajacomo.blogspot.com/