segunda-feira, 11 de abril de 2011

Até qualquer dia

Estou indo, mas vou deixar a chave naquele esconderijo que combinamos, tá bom? Você pode entrar quando quiser, e pode ficar bastante a vontade. A casa é tua. Na verdade, a casa só existe por tua causa. E sendo tua,  podes fazer o uso que bem entender: festas, abrigo, orgias ou oração. Só não te esqueças de bater a porta quando sair, e deixe a chave sempre no mesmo lugar, para o caso de um dia eu querer voltar. Sim, a gente sempre pode voltar, sobretudo quando a gente foi feliz em um lugar. E eu fui muito feliz aqui. Parto com as mais doces lembranças e deixo todo o meu afeto.

Carinho,

Isa.


sexta-feira, 8 de abril de 2011

Triste...

Eu sei que, não sendo mãe, jamais entenderei plenamente tuas lágrimas na perda de teu filho.
Eu sei que, mesmo sendo professora, não era eu quem estava naquela escola, naquela sala, com aquelas crianças.
Eu sei que, embora eu já tenha tido a tua idade, jamais conhecerei a dor de perder amigos na adolescência.
Eu sei que tudo que eu vi, não foi nada diante do horror pelo qual tu passaste.
Eu sei que as minhas lágrimas estão longe de arder como as tuas.
Eu sei que tua dor é só tua e, portanto, ninguém mais neste mundo pode senti-la da mesma forma.
Mas saiba que eu também chorei, e ainda choro.
Chorei porque tudo pode acontecer, aí ou aqui.
Porque estamos todos desprotegidos da maldade humana.
Porque somos humanos.
Chorei porque querem nos vender essa tragédia como um crime americano, mas este crime é brasileiríssimo; todos os dias alunos e funcionários são agredidos.
Chorei porque não aguento mais tantas teorias que não dão conta de nada.
E não aguento mais a mídia fazendo, da tragédia, espetáculo.
Chorei porque sei que, quando o espetáculo acabar, tudo será esquecido, como se esquece tudo neste país.
Chorei porque é a única coisa que posso fazer agora.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Cuida de mim (O Teatro Mágico)

Pra falar verdade, às vezes minto 
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto
Pra dizer às vezes que às vezes não digo
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo
"Tanto faz" não satisfaz o que preciso
Além do mais quem busca nunca é indeciso


Eu busquei quem sou
Você pra mim mostrou
Que eu não sou sozinha nesse mundo.

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo... Enquanto fujo...





Basta as penas que eu mesmo sinto de mim
Junto todas, crio asas, viro querubim
Sou da cor do tom, sabor e som que quiser ouvir
Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir
Quero mais, quero a paz que me prometeu
Volto atrás se voltar atrás assim como eu.

Busquei quem sou
Você pra mim mostrou
Que eu não estou sozinho nesse mundo.

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você
Cuida de mim enquanto finjo... Enquanto fujo...




composição : Fernando Anitelli

domingo, 3 de abril de 2011

Domingo, este.

Nenhum desejo neste domingo
nenhum problema nesta vida
o mundo parou de repente
os homens ficaram calados
domingo sem fim nem começo


A mão que escreve este poema
não sabe que está escrevendo
mas é possível que se soubesse
nem ligasse.


DRUMMOND, Carlos. In: Alguma poesia.