O que fazer quando a felicidade transborda? Como agir quando não se sabe merecedor de tantas benécies? Como agradecê-las? Porque a felicidade nos escolhe, dentre tantos?
Estas e outras questões me foram trazidas por Dostoievski na sensível peça “Um coração fraco”, brilhantemente interpretada por Caio Blat e Kadu Fávero. A história fala de amor, amizade, felicidade e loucura. Vássia, um rapaz pobre que trabalha em uma repartição pública, interpretado por Caio, se vê diante de um grande amor correspondido, sucesso profissional, além de poder contar com a sincera amizade de seu companheiro Arkaddi. Sua vida se torna tão feliz, tudo parece dar tão certo, que seu coração não suporta a própria felicidade. O moço não se acha merecedor de tanto e entra num processo de enlouquecimento que arranca lágrimas tanto da platéia quanto do próprio elenco.
Afinal, num mundo onde as pessoas almejam a felicidade gratuita, o que seria necessário para merecê-la? Durante o espetáculo eu pensava se realmente eu merecia aquela mão segurando a minha, companheira de tantos anos. Se realmente eu fiz algo merecedor de tão lindos amigos que a vida me trouxe; de uma família torta, mas tão igualmente bonita, e de um trabalho que me dignifica. Será que a vida é realmente um espelho a lhe devolver o que nela você projeta? Existe a sorte? Existem os eleitos à felicidade? Existe um jeito de agradecer?
Eu já me considero lindamente mimada por Deus, sobretudo por conseguir encontrar o equilíbrio de me manter sã diante do muito ou pouco que me cabe. Não sei se mereço tudo que tenho, ou se mereço mais. Talvez a raposa esteja certa: "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Talvez eu também tenha cativado alguns.
Conheço algumas pessoas de coração de fraco, tanto para a tristeza quanto para as alegrias. Meu coração é fraco para as tristezas e tento fortalecê-lo, mas é forte para a felicidade. E além de forte, é pidão e quer sempre mais. Ele estará sempre aberto às alegrias e, transbordando ou não, quero sempre dividi-las com todas essas pessoas especiais que fazem parte da minha vida. Talvez seja este meu agradecimento, sem obrigação alguma, mas por pura vontade de compartilhar beleza, e quando for necessário, também a tristeza.
Um forte abraço e bela semana a todos!