quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ah! O Mar...

Quando vem bravo, me diz o quanto eu preciso ser forte.
Quando está manso, me diz o quanto devo ser leve, e me abraça.
Quando está salgado, me diz que é preciso tempero.
Quando está quente, me lembra de quem me aquece.
Quando está frio, me aborrece.
Quando está sol, me queima.
Quando é chuva, dança e me encanta.
Quando me alimenta, mostra que é vida.
Quando estou só, melhor companhia.
Quando estou feliz, melhor festa.
Quando estou triste, melhor resposta.
Em todos os momentos, te adoro.
Como te gosto...

Paixão

Quando a gente se apaixona o mundo vira de cabeça pra baixo. As mãos suam, a cabeça fica longe, o olhar ganha um novo brilho, o coração não desacelera e as borboletas insistem em bater suas asas dentro da nossa barriga, provocando aquela cosquinha gostosa o tempo todo.

Quando a gente se apaixona perde-se todo o juízo, sanidade mental e pudor. Somos capazes de fazer tudo aquilo que antes julgávamos imoral, tudo aquilo que dissemos que jamais faríamos por homem nenhum, por mulher alguma. A alma desembesta... Julga-se tudo com a inconsciência apaixonada. Paz? Não... paz e paixão nunca dão as mãos.
Quando se está apaixonado o espírito fica sempre perturbado. A paixão é vermelha.

E pra quem pensa que a paixão é apenas prazerosa, muito se engana. A paixão, se não atende nossas expectativas (o outro), também dói. Dói no corpo e na alma, dilacera o peito, arde na corrente sanguínea. Não há como se desprezar a dor da paixão, pois ela fica ali, exposta, mostrando na sua cara que ela existe. A paixão é bem malzinha também, não tem pena de ninguém. É uma boa merda...

Mas ainda assim, penso que se apaixonar vale muito à pena, mesmo que seja pela pessoa errada, mesmo que se sofra pra cacete, mesmo que se demore anos para cicatrizar as feridas. Imagine passar por esta vida sem nunca ter sentido todas as dores e as delícias de uma paixão? Imagine viver sempre na racionalidade? Nunca perder cabeça, nunca sentir essa dor, nunca fazer amor que nem animal, nunca querer morrer dentro de alguém, nunca morrer de paixão... e depois renascer... Ah não!... Pode até parecer meio masoquista, mas é muito bom estar apaixonado! E se for pelo sujeito certo então... quem sabe não vira amor? Sim, porque a paixão tem prazo de validade. Infelizmente... ou felizmente?

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pedra do Sono

É a pedra, o sono e a insônia.
É onde tropeço tentando caminhar, o que não me deixa dormir e o que me faz sonhar.
É o zumbido da mosca. É a coceira e vontade de coçar.
É a impossibilidade de ser “Entre Palavras e Coisas”, porque este já existia. Mas é o que caiu como uma luva, dado o momento de sua criação.
É também o nome do primeiro livro de poesias de João Cabral de Melo Neto, o moço que escreveu lindamente “Morte e Vida Severina”.
É pensamento e linguagem.
É meu jeito de falar, de sentir e de ver.
É remédio pra minh’alma.
É papel em branco me esperando.

*Aos que me perguntaram sobre o nome do blog.
Bjs!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Quando você chega

Me encanta
Me arranca
Me desbanca

Me especula
Me consome
Me bagunça

Me arrepia
Me alucina
Me intimida

Me vejo
Me sinto
Me perco.

sábado, 24 de abril de 2010

Papo Calcinha


Outro dia resolvi dar uma geral no guarda roupas. Separar coisas que não uso, coisas que não cabem mais nesse corpinho (arghhh), desfazer-me de alguns objetos que já não dizem nada. Tirar um pouco o peso da consciência pelos excessos nos shoppings e alegrar a vida de outras pessoas com singelas doações. Faço isso pelo menos duas vezes ao ano. Até sinto uma pontinha de admiração por mim nessas horas, pois as moças sabem que isso não uma tarefa tão simples assim...

Separo umas blusas aqui, umas calças ali, uns vestidos acolá... Quando de repente ELAS olham pra mim: Calcinhas. Isso mesmo. Velhas calcinhas de estimação, que partilham da minha intimidade há alguns anos, e que definitivamente não dá mais para serem usadas com dignidade. Mas então o que elas fazem ali?

Obviamente não vou doar minhas calcinhas usadas pra outras pessoas, claro que não! Mas algumas é necessário que se jogue fora, e cadê que eu consigo!? Há uma certa carga sentimental com algumas calcinhas, o que dificulta livrar-me delas facilmente. Não sei muito bem explicar o porquê, mas é que calcinha não é igual roupa. Não dá pra você sair jogando fora assim... Parece que com elas vão todos os nossos segredos, nossas intimidades. E ninguém sai jogando fora as intimidades dessa forma, há todo um cuidado para essa despedida.

Tenho uma amiga que num verdadeiro ritual de despreendimento, queima as calcinhas que não quer mais. Uma outra empacota a pobre coitada num saquinho plástico antes de jogar fora. E já ouvi falar de várias moças que picotam as calcinhas antes de se despedirem, pra ninguém mais poder usá-las, e os segredos morrerem ali, na lata do lixo, picotadinhos! E eu, sem saber o que fazer, fico ali olhando pra elas e pensando nas alternativas... Af! Como mulher sofre por cada besteira! Como se não bastasse tantas outras coisas a nos perturbar...

Mas por que tanta cerimônia para se desfazer de um pedaço de pano? O que tanto temos medo de que vá para o lixo e se perca? Por que não jogar as “velhas” fora, se são aquelas “novinhas” que faz com que nos sintamos voluptuosas, prontas pra encarar o mundo?! Calcinha é mesmo uma peça bem paradoxal: a gente se sente super poderosa numa calcinha nova, mas no fundo nada é mais confortável e encaixa tão bem quanto aquela mais velhinha, nem que seja pra dormir. E qual moça não tem uma calcinha um pouco velha guardando segredos no guarda roupas? Só mesmo a Bailarina de Chico Buarque que não tem... Aquela que não tem pereba, nem pecado, nem calcinha velha, nem graça, nem nada...

Procurando bem, todo mundo tem...

Música: Ciranda da Bailarina - Chico Buarque / Edu Lobo

terça-feira, 20 de abril de 2010

The Fevers

Quando tocou The Fevers a nostalgia veio com tudo. Eram esses moços que embalavam as festas em família quando eu era criança, aliás até hoje. Ok, é brega, os caras são esquisitos, e seria bem mais poético ter lembranças de família ao som de Chico ou Beatles, mas minha família é assim mesmo: brega e cheia das esquisitices, e eu adoro! Família é sempre uma coisa um tanto confusa, todas têm seus dramas e hilariedades.

Minha família sempre foi muito festeira, tudo era motivo. E olha que ela não se constituía de pai, mãe e irmãos. Tinham também tios, primos, agregados e o que mais se juntasse! Lembro-me de uma vez que até chorei na prova de Estudos Sociais, porque a minha família não ia caber no quadro onde eu tinha que desenhá-la, pois era muita gente. Enfim, muitas festas, muitos aniversários, e quando a festa era de adultos, ou quando a festa era apenas a festa dos nossos encontros, tocava The Fevers até o fim...

Os fins de semana (ou não) eram dias de estar com os primos e brincar sem hora pra acabar. Minha avó sempre preparando coisas gostosas com aquele carinho que nos alimenta, e depois da comilança os adultos jogavam sueca ao som de The Fevers. Volta e meia os casais cantarolavam uns pros outros “Vem, vem me ajudar, sem teu carinho eu não posso viver...”, ensaiavam uma dança e o dia ia passando cheio de conversas e sorrisos, e como toda família, com algumas confusões também. Mas no fim de semana seguinte tudo se repetia. Acho que naquela época as pessoas tinham mais facilidades pra se perdoarem nas pequenas coisas. Voltando ao carteado, esse era uma constante nos encontros familiares. Os adultos se revezavam entre músicas e cartas, e eu, metida que sempre fui, fui me achegando e aprendendo até me tornar parceira oficial do Tio Léo. Ganhávamos quase todas, e eu me sentia uma adulta no meio dos “grandes” jogando sueca. Até hoje gosto de baralho, mas pouco jogo.

As festas eram sempre no quintal da minha avó, onde eu morava. A casa estava sempre cheia de crianças, de adultos, de gente querendo se entrosar. Minha avó, a célula máter, sempre organizava os “comes e bebes” e por vezes trazia as comidas à mesa acompanhando a música que tocava “Pra cima! Pra baixo!”. E as músicas iam embalando nossas brincadeiras, nossos segredos, e revelando nossos desejos.

Outro dia teve festa na casa da vó, e apesar da família ter aumentado bem desde aquela época, no quintal já não tinha mais tantos rostos conhecidos. Não tive aquela sensação de começar a festa. Não havia tantos primos, não havia baralho, não havia muitas crianças brincando, não havia os casais, e The Fevers só tocou no finalzinho, embalando minha saudade. E a música dizia que ninguém tinha me prometido um mar de rosas...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

CONFISSÃO DE CABÔCO



Seu dotô, sou criminoso. / Sou criminoso de morte. / Tou aqui pra mi intregá. / Vosmicê fique sabendo: / quando a muié traz a sorte / de atraiçoá o isposo, / só presta para se matá.

Nunca pensei, seu dotô, / qui a mão nêga do distino, / merguiasse as minhas mão / no sangue dos assassino! / Vô li pidí um favô / ante de vossamercê / mi butá daqui pra fora: / é a licença do dotô / pr'eu li contá minha histora.

Sinhô dotô delegado, / digo a vossa sinhuria / qui inté onte fui casado / cum a muié qui im vida / se chamô Rosa Maria. / Faz dez mês qui se gostemo, / faz oito qui fumo noivo, / faz sete qui nós casêmo. / Nós casêmo e nós vivia / cumo pobre, é bem verdade, / mas a gente se sintia / rico de filicidade!

Pras banda qui nós morava, / no lugá Chã da Cutia, / morava tombém um cabra / chamado Chico Faria. / Esse cabra, antigamente, / tinha gostado de Rosa, / Chegaro inté a sê noivo, / mas num fizero a "introza" / do casamento, prumode / Mané Uréia de Bode, / Qui era padrim de Maria / tê dismanchado essa prosa.

Entoce, o Chico Faria, / adispois qui nós casêmo, / in cunversa, as veis dizia, / qui ainda mi dava fim / pra se casá cum Maria. / Dessa coisa eu sabia, / mas nunca dei importança. / Tinha toda cunfiança / na muié qui eu tanto amava, / ou mais mió, adorava./ Cum toda a minha sustança.

Dispois disso, o meu custume / era vivê trabaiando / sem da muié tê ciume. / A muié pru sua vez / nunca me deu cabimento / deu pensá qui ela fizesse / um dia um farcejamento. / Mas, seu dotô, tome tento, / no resto da minha histora, / qui o ruim chegô agora:

Se não me farta a mimória, / já faz assim uns três mêis, / qui o cabra, Chico Faria, / todo prosa, todo ancho, / quage sempre, mais das vêz, / avistava o meu rancho. / Puralí, discunfiado / como quem qué e não qué, / eu fui vendo qui o marvado / tentava a minha muié.

Ou tentação ou engano, / eu fui vendo a coisa feia! / Pru derradêro eu já tava / C'a mosca detrás da urêia. / Os tempo foi se passando / e o meu arreceiamento / cada vez ia omentano.

Seu dotô, vá iscutano: / onte, já de tardezinha / o meu cumpade, Quinca Arruda, / mi chamô pra nós dança / num samba, lá na Varginha,/ na casa do mestre Duda. / Mestre Duda é um cabôco, / um tocadõ de premêra. / É o imboladô de côco / mió daquela rebêra.

Entonce Rosa Maria, / sempre gostou de samba, / mas, porém, de tardezinha / me disse discunfiada, / qui pru samba ela não ia, / Qui tava munto infadada, / percisava se deitá. / Eu fiquei discunfiado / cum a preposta da muié! / Dispois qui tomei café, / cuage puro sem mistura, / cum a faca na cintura / fui pru samba, fui sambá. / Cheguei no samba, dotô, / repare agora, o sinhô, / quem era qui tava lá?

O cabra Chico Faria, / qui quano foi me avistando, / foi logo mi preguntando: / - cadê siá dona Maria, / num veio não, pra dançá? / - Não sinhô. Ficô im casa, / pru cabôco arrispondí. / Senti, entonce uma brasa / queimano meu coração, / nunca mais pude tirá / as palavra desse cabra / da minha maginação.

Perdí o gosto da festa / e dançá num pude não. / O cabra, pru sua vez, / num dançava, seu doutô. / De vez im quando me oiava / Cum um oiá de traidô. / Meia noite, mais ou meno, / se dispidino do povo / disse: - Adeus, qui eu já vô. / Quando ele se arritirô, / eu tombem me arritirei / atraiz dele, sim sinhô. / Ele na frente, eu atrais. / Se o cabra andava ligêro, / eu andava munto mais!

Noite iscura qui nem breu! / Nem eu avistava o cabra, / nem o cabra via eu! / Sempre andando, sempre andando, / ele na frente, eu atrais. / Já nem se iscutava mais / a voz do fole tocando / na casa do mestre Duda! / A noite tava mais preta / qui a cunciênça de Juda! / Sempre andando, sempre andando, / eu fui vendo, seu dotô, / qui o marvado ia tumando / direção da minha casa! / Minha casa!... Sim sinhô!

Já pertinho, no terrero, / eu mi iscundí pru detraiz / de um pé de trapiazêro. / Abaixadim, iscundido, / prendi a suspiração, / Abri os óio, os ouvido, / pra mió vê e ouvi / qual era a sua intenção. / Seu dotô, repare bem: / o cabra oiando pra traiz, / do mermo jeito qui faiz / um ladrão pra vê arguém, / num tendo visto ninguém, / na minha porta bateu! / De lá de dentro uma voiz / bem baixim arrispondeu.../ Ele entonce, cá de fora: / - Quem ta bateno sou eu! / De repente abriu-se a porta! / Aí seu dotô, nessa hora / a isperança tava morta, / tava morto o meu amô...

No iscuro uma voiz falô: / - Taqui, seu Chico, essa carta, / qui a tempo tinha iscrivido / pra mandá pra voismicê. / Pru favô num leia agora, / vá simbora, vá simbora / qui quando chegá im casa / tem munto tempo pra lê. / Quando minhas oiça ouviu, / as palavra qui Maria / dizia pru disgraçado, / eu fiquei amalucado, / fiquei quage cumo loco, / ou mio, cumo um cabôco / quando ta chêi de isprito! / Dum sarto, cumo um cabrito, / eu tava nos pés do cabra, / e sem querer dei um grito: / - Miserave! E arranquei / minha faca da cintura. / Naquela hora dotô, / eu vi o Chico Faria, / na bêra da sipurtura.

Mas o cabra teve sorte. / Sempre nessas circunstança / os home foge da morte. / Correu o cabra, dotô, / tão vexado, qui dexou / a carta caí no chão! / Dei de garrá o papé, / o portadô da traição! / Machuquei nas minha mão, / a honra, dotô, a honra / daquela farsa muié! / Dispois, oiando pra carta / tive pena, pode crer, / de num tê prindido a lê / nas letra alí iscrivida, / o qui dizia Maria / pru marvado traidô. / Tive pena, sim sinhô. / Mas, qui haverá de fazê, / se eu nunca prindí a lê?

Maria mi atraiçuô! / Essa muié qui um dia, / juêiada nos pé do artá / jurou im nome de Deus / qui inquanto tivesse vida, / havéra de mi honrá, / e mi amá cum todo amõ, / cum perdão do seu dotô./ quando eu vi a miserave / na iscurideza da noite / dos meu oio se iscondê, / sem dêxá nem sombra inté, / entrei pra dentro de casa / pra mi vingá da muié.

Dotô, qui hora minguada! / Maria tava ajuêiada, / chorando, cum as mão posta, / cumo quem faz oração. / Oiando pra eu pedia, / pelo cali, pela ostia, / pru Jesus crucificado, / pelo amo qui eu li amava, / qui num fizesse isso não.

Eu tava, dotô, eu tava / cego de raiva e paixão. / Sem dizê uma palavra, / agarrei nas suas mão, / levantei ela pra riba / e interrei inté o cabo, / o ferro da Parnaíba / pru riba do coração! / Sarvei a honra, dotô, / sarvei a honra, apois não!
Dispois qui vi a Maria / caí sem vida no chão, / vim fala cum vosmicê, / vim cunfessá o meu crime / e mi intregá a prisão. / Se osinhô num acredita / se eu sô criminoso ou não, / tá aqui a faca assassina / e o sangue nas minhas mão. / Cumo prova da traição, / tá aqui a carta, doutô. / Li peço um grande favô: / ante de vossa-sinhuria / mi mandá lá para prisão, / me lêia aqui essa carta / pr'eu sabê cumo Maria / perparava essa traição!

A CARTA

"Seu Chico: Chã da Cutia. / Digo a vossa senhoria / que só lhe escrevo essa carta / pru senhor ficar sabendo / que eu não sou a mulher / que o senhor tá entendendo. / Se o senhor continuar / com os seus disbiques atrevidos, / o jeito que tem é contar / tudo, tudo a meu marido. / O senhor fique sabendo / que com seu discaramento, não faz nunca eu quebrar / o sagrado juramento / que eu jurei nos pés do altar, / no dia do casamento. / Se o senhor é inxirido, / encontrou u'a mulher forte, / o nome do meu marido / eu honro até minha morte! / Sou de vossa senhoria, / sua criada. / Maria."

- Dotô! Dotô mi arresponda / o qui é qui eu tô ouvindo? / Vosmicê leu a carta, / ou num leu, ta mi inludindo? / - Dotô! Meu Deus! Seu dotô, / Maria tava inucente? / Me arresponda pru favô!

- Inocente! Sim, senhor!

Matei Maria inucente! / Pru que, seu dotô, pru que? / Matei Maria somente / pruque num aprendi a lê! / Infiliz de quem num leu / uma carta de ABC. / Magine agora o dotô, / quanto é grande o meu sofrê! / Sou duas veiz criminoso, / qui castigo, seu dotô! / Qui mizera! Qui horrô! / Qui crime num sabê lê!


ZÉ DA LUZ - Poeta das terras nordestinas, nasceu em 29 de março de 1904 em Itabaiana, região agreste da Paraíba e faleceu no Rio de Janeiro em 12 de fevereiro de 1965.

Recanto da letras

quarta-feira, 14 de abril de 2010

IGUACINE


Vários filmes bacanas, e eu não vou poder assistir...Snif! Mas pra quem estiver em Nova Iguaçu, e pra quem não estiver mas quiser vir... APROVEITE!

Maiores informações no site do evento.

Quando nascemos?

Sábado. Todas exaustas da semana intensa de chuva e trabalho, este que, para nós mulheres, se estende para muito além do horário comercial. Até que a temperatura do dia estava amena, e o calor insuportável de todos os nossos encontros não era mais um desafio a ser superado. Neste momento o texto a ser estudado era sobre o Brincar na Educação Infantil, artigo da querida Ângela Borba, estudiosa dos assuntos da infância e que atua no cotidiano escolar(coisa rara entre os “grandes” nomes da educação, cuja maioria nunca entrou numa sala de aula). Mas enfim, o assunto não é bem esse. Voltemos. Após discussões intensas sobre a importância do brincar, propomos uma dinâmica na qual cada uma de nós falaríamos sobre alguma memória da infância, relacionada a algum brinquedo que escolhêssemos (havia brinquedos expostos na sala).

Várias memórias foram verbalizadas: umas felizes, outras tristes, e todas me reforçando a certeza do quanto as marcas da infância são carregadas pela vida afora, pro bem e pro mal. Mas uma fala, em especial, mexeu comigo, e está me perturbando até agora. A moça jovem, de sorriso largo, disse que havia nascido aos 10 anos de idade, pois antes disso vivia doente, numa infinidade de alergias que ninguém sabia o porquê. Não podia brincar, só conseguiam parar no estômago água com fubá, não tinha forças pra ir à escola, não podia suportar o pó do giz, não convivia com outras crianças, enfim, e nesse monte de “não poder nada” a única coisa a se fazer era ficar admirando a paisagem, que por sinal era bem bonita, no interior de minas gerais.

A paisagem e as intermináveis possibilidades de agir sobre ela a deixava ainda mais triste. Não se sentia viva na vida, apenas observava. Até que aos 10 anos de idade, já no Rio de Janeiro, as doenças começaram a desaparecer, e a menina começou a nascer. Só então pôde experimentar as árvores, as pessoas, a escola e o mundo. A menina sentiu-se, pela primeira vez na vida, viva, pois agora ela podia escolher brincar, podia aprender a ler e podia sair por aí e viver, embora as mazelas da contemporaneidade nem sempre nos permita. O dia de seu nascimento estava bem definido em sua cabeça: 10 anos após o parto oficial. Antes ela ainda estava maturando no ventre da mãe. Imagine só, 10 anos de gestação!

Eu forço a memória, mas não consigo lembrar-me do dia que nasci. Será que foi mesmo no parto de minha mãe? (pelo que ela diz a experiência não foi das mais agradáveis) Será que quando aprendi a ler? Será que foi quando me percebi amando pela primeira vez? Quando me casei? Ou quando descobri o mar?... Não sei... Às vezes a gente só percebe que nasceu quando morrem algumas coisas... Mas que estou vida, ah... isso eu sei que estou! (e esse é assunto pra um outro post).

É preciso certa dose sensibilidade para se perceber na vida e de muita coragem para viver. Agora, para perceber nosso próprio nascimento, a sensibilidade dever ser ainda maior... Quem sabe um dia eu me lembre? Ou ainda, quem sabe eu descubra que ainda nem nasci? Será?

E você? Lembra-te do dia do teu nascimento?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Quando as palavras não bastam...

Dan - I love you!
Alice: - Where?
Dan: - What?
Alice: - Show me! Where is this love? I do not see it. I can not touch him. I do not feel. I hear ya, I hear a few words ... but can do nothing with their empty words.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

RespirAR

Assistindo a uma rapidíssima entrevista de 3 minutos com a atriz Christiane Torloni, ao final ela diz uma coisa que me deixou pensativa: Respire, é isso que podemos fazer agora.

Respirar, algo aparentemente tão natural, mas que nos é tão caro nos dias de hoje, e nem percebemos. Pensei imediatamente nas pessoas que ficaram soterradas nos desabamentos que ocorreram nesta última semana no Rio de Janeiro. Aquelas imagens de lama sobre as casas, sobre as pessoas, não saem da minha cabeça. E fico a imaginar as últimas tentativas de se encontrar ar, de respirar em meio à lama, respirar lama, lixo e chorume. A última respiração. O último suspiro.

Muitas vezes me vejo procurando ar, tentando respirar. E encher de ar os pulmões nem sempre é coisa mais fácil e natural nessa vida. Quantas vezes você já se viu sem ar por aí? Sufocamos um monte diante de tanta perversidade humana, de tanto descaso político, de tanto desamor, de tanto choro, e passamos a achar normal o ar poluído, seco, ou tão úmido que chega a mofar nossa alma.

Como é difícil encher os pulmões de ar e gritar! Gritar contra tudo que nos agride, gritar pelos nossos ideais, pelo nosso amor.... Às vezes falta-nos coragem, e então engolimos um pouco de ar, vazio e com o amargo sabor da covardia.

Há muitos motivos pelos quais perdemos o ar, e a respiração fica quase impossível. Perdemos o ar de tanta raiva quando os políticos abrem a boca pensando que somos todos idiotas, tamanha nossa ira. Perdemos o ar quando a tristeza é tão grande e nada é capaz de consolar-nos, tamanha nossa perda. O ar desaparece quando o medo é tão absurdo que parece que vamos morrer, tamanho o susto. A respiração some quando nosso amor, aquele que planejou conosco todos os sonhos do futuro, diz que não nos ama mais e solta nossa mão, e o ar parece tão distante, e a vida tão pequena, tamanha desilusão.

Mas às vezes a gente fica sem ar por deliciosos motivos. Perdemos o ar quando nos deparamos inesperadamente com aquela paixão platônica exatamente naquele momento que estamos pensando nela, e o coração parece que vai parar, ou pular, e o ar parece que é pouco pra suprir tamanha felicidade. O ar some quando recebemos aquela notícia tão esperada, mas que as esperanças de recebê-las já estavam se esvaindo, e a mão chega ao peito querendo abrir o pulmão pra poder respirar, tamanha surpresa. O ar desaparece quando a alegria é tão grande que quase morremos de rir, e o pulmão parece que vai pra barriga, e parece que na falta do ar sai até lágrima dos olhos, tamanha satisfação. O ar desaparece quando aquele homem lindo, dos nossos sonhos juvenis - com aquela cara, aquela pele, aqueles olhos, aquele corpo - aparece "assim" no seu caminho, e o ar some, tamanha incredibilidade de que exista um ser desses dando sopa por aí. O ar, às vezes, some quando nosso amor está tão ardente, que não cabe mais dentro de um corpo, dentro de um quarto, e chegamos a ficar sufocados de tanto prazer, tamanha paixão. O ar some quando o carinho recebido é tão grande, que com ele somem também as palavras, tamanha gratidão. O ar simplesmente cede lugar às lágrimas quando vemos pela primeira vez aquele rostinho lindo, um misto do amor que se materializou na forma mais bela de pureza e encanto, tamanho nosso amor.

Respirar... A primeira e última coisa que fazemos na vida, e em dois momentos tão difíceis (não sei se para todos, mas para mim não existe morte fácil), e nem imagino qual desses é mais dolorido...

Respiramos, durante toda a vida, de várias maneiras. Ao nascer, há essa respiração sofrida, e deve doer muito para começar a respirar nesse mundo louco, e acho que é por isso que os bebês gritam tanto quando nascem. Passada a dor do parto, vários e intermináveis jeitos de se respirar: suave, ofegante, cansado, pausadamente, longamente, não importa, cada tipo de respiração representa uma emoção sentida, até que se chega à tão temida hora, e respira-se o último momento sentido (pelo menos nesta vida).

Respirar. Tão fácil e tão difícil. Cabe a nós filtrar.

domingo, 11 de abril de 2010

Blogando por aí...

Eu, de tanto passear pela blogosfera, senti vontade de de deixar um pouquinho de mim por aí.
Deixarei sorrisos, lágrimas, poesias, inquietações, medos, fantasias, gestos, palavras, leituras, imagens, olhares e tantas outras coisas que me fazem. E deixando um pouco de mim, espero levar um pouco de todos que por aqui passarem.
Sejam bem vindos.